A Casa São Francisco de Sales, uma casa de Deus

 

Por Diácono Georges Bonneval

 
 

Quando o Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta nos mostrou o Colégio São Francisco de Sales, sobre a colina do bairro Riachuelo na grande cidade do Rio, eu imediatamente pensei: “Felizmente esta ideia veio diretamente do nosso Arcebispo, porque nós nunca teríamos tido a pretensão de pedir esta enorme casa para instalar a nossa Comunidade!”.

 
 

UMA COMUNIDADE PORTA-AVIÕES

E ao mesmo tempo logo me lembrei da imagem pedagógica que o Senhor nos mostrava no início da fundação de nossa comunidade na França em 1986: A imagem de uma comunidade porta-aviões... Uma plataforma colocada em pleno oceano do mundo, da qual partem em missão numerosos aviões e que voltam à base para serem reabastecidos e partirem novamente.

A Casa São Francisco de Sales não desmentiu esta imagem, porque corresponde bem a este porta-aviões, uma plataforma para a Nova Evangelização, no coração do Rio de Janeiro, oceano da vida urbana, com uma vida tão fervilhante quanto plural e imprevisível.

O que iríamos plantar nesse lugar, senão a mesma semente que em todas as outras grandes casas da nossa comunidade. Uma comunidade particular nunca tem todos os carismas, pois somente a Igreja, em sua catolicidade os carrega a todos, sem exceção. Isso seria uma tentação, a de poder querer abraçar o que só os braços da Igreja universal são capazes de fazê-lo! O primeiro grande desafio da nossa equipe fundadora, foi o de então transformar, pouco a pouco, esse grande colégio salesiano, cheio de crianças durante gerações, numa imensa casa de retiros espirituais. Graças a Deus e à oferenda da vida de uma multidão de irmãos missionários, amigos e benfeitores, o desafio foi alcançado e o barco foi lançado em alto mar para receber milhares de pessoas, crianças, jovens e adultos, durante estes últimos cinco anos. Mas esta Casa São Francisco de Sales, com a sua identidade própria, tornou-se progressivamente muito além do que nós podíamos prever: uma verdadeira Cidade de Deus!

UMA VERDADEIRA CASA DE DEUS

Por que utilizar este termo, tão caro a Santo Agostinho, que o usa com um outro significado? Com efeito, o Doutor da Igreja buscou compreender as evoluções coletivas da comunidade dos homens. Sua interrogação sobre a história da humanidade do seu tempo fez-lhe buscar uma cidade ideal. E ele o fez tendo por base a sua fé cristã. Numa de suas frases célebres, Agostinho resume a sua visão:

"Dois amores construíram duas cidades: a da terra, pelo amor de si mesmo, até o desprezo de Deus e a do céu, pelo amor de Deus, até o desprezo de si mesmo"¹

Os missionários, homens e mulheres que chegaram nesta Casa Salesiana, no dia 11 de fevereiro de 2016, para fundar a Comunidade Sementes do Verbo, eram todos amigos e discípulos de Jesus, tendo cada um feito sua parte de renúncia e dando sua resposta vocacional para seguir ao Senhor. Neste mesmo sentido, chegaram os primeiros “Companheiros” para viverem neste lugar um Ano Sabático, na mesma perspectiva de um ano para Deus, como jovens discípulos que buscam fazer a vontade de Deus em suas vidas, a qual, se revela até o final deste ano, tanto numa vida profissional quanto vocacional. Depois, num terceiro momento surge a experiência da Escola São Lucas (Ano São Lucas), com a chegada de homens e mulheres que, no seu percurso vocacional, necessitam de uma ajuda psicológica, continuando, ao mesmo tempo, uma sólida vida espiritual.

Por fim, chegaram as mães que esperam uma criança em situação de risco social, o Projeto Nossa Senhora Auxiliadora. E ainda as crianças e adolescentes do “Ballet de Santa Teresa”, que aprendem a cantar, dançar e tocar, não somente para si mesmas, mas para a glória de Deus e para buscarem a Beleza. Num mundo de massas onde muitos se sentem sozinhos, marginalizados e isolados, são mais do que nunca numerosos os que percebem a necessidade e a sede de viverem a dimensão comunitária e fraterna da existência e que buscam oásis de águas saudáveis e salutares. Sem falar, como diz o Papa Francisco, daqueles que são tocados por novas pobrezas que nascem²:

No mundo atual, esmorecem os sentimentos de pertença à mesma humanidade; e o sonho de construirmos juntos a justiça e a paz parece uma utopia doutros tempos. Vemos como reina uma indiferença acomodada, fria e globalizada, filha duma profunda desilusão que se esconde por detrás desta ilusão enganadora: considerar que podemos ser onipotentes e esquecer que nos encontramos todos no mesmo barco." ³

CASAS DE ORAÇÃO E DE MISERICÓRDIA, LUGARES DE ACOLHIMENTO E ESCOLAS DE VIDA NASCIDAS DO DESEJO DE DEUS, PARA O NOSSO TEMPO!

As nossas casas de comunidade não são nem um luxo sociológico e muito menos uma curiosidade de peças de museu, mas uma necessidade para os tempos em que vivemos e que viveremos. Não só representam uma necessidade social, mas são sobretudo uma realidade espiritual, no sentido de “casas de oração e de misericórdia”. Porque não nasceram de um desejo meramente humano, mas do desejo da graça de Deus para o nosso tempo: o de multiplicar e consolidar esses lugares de acolhimento e escolas de vida, segundo o amor e a substância do Evangelho de Cristo.

¹ Santo Agostinho, Cidade de Deus XIV, 28

² Papa Francisco, Fratelli Tutti, n.21.

³ Papa Francisco, Fratelli Tutti, n.30.

(Texto retirado da revista Tolle Et Lege, edição: Centro de Formação São Francisco de Sales, Vol. 2, Nº. 1)

Primeiras visitas ao antigo colégio Salesiano

A Casa São Francisco de Sales atualmente, vista de cima