Comunhão sacramental: remédio e caridade dos peregrinos| Palavra do fundador - Junho 2023

 

Em 08 de junho, a Igreja celebra o Corpo de Deus, também chamada Solenidade de Corpus Christi, ou seja, uma festa em honra do Santíssimo Sacramento, do Corpo e do Sangue de Cristo. Esta Solenidade é celebrada na quinta-feira seguinte ao Domingo da Trindade, ou seja, 60 dias após a Páscoa (ou no domingo seguinte em alguns países).x

Mesmo se essa celebração foi se tornando mais clara ao longo dos séculos, ela foi instituída como a festa do Corpus Domini somente no século XII, em 11 de agosto de 1264, pelo Papa Urbano IV a pedido dos cristãos da Bélgica (em Liège). O mesmo Papa fixou essa festa na quinta-feira após a oitava de Pentecostes e confiou a redação dos textos litúrgicos a Santo Tomás de Aquino.

É interessante notar que seis séculos mais tarde, em homenagem ao 600º aniversário da instituição desta solenidade, as autoridades de Liège pediram ao compositor Felix Mendelssohn para compor uma cantata polifônica da sequência Lauda Sion, que foi apresentada no dia do Corpo de Deus em 1846 na basílica gótica de São Martinho, em Liège.

Em Roma, foi o Papa São João Paulo II que, desde o início de seu pontificado em 1979, encorajou fortemente a celebração da festa com uma procissão da Basílica de São João de Latrão até a Basílica de Santa Maria Maior. A tradição dos tapetes florais, que decoram o percurso da procissão, é uma tradição nascida em Roma na primeira metade do século XVII e se estendeu a outras cidades da Itália e outras dioceses do mundo.

Santo Tomás de Aquino: Cantor e Doutor da Eucaristia

Os confrades estudantes de Santo Tomás de Aquino o apelidaram de “o boi mudo” por causa de sua alta estatura: grande, forte e de bela aparência. Tinha a reputação de um homem gentil, alguém que se certificava de que suas palavras não feriam ninguém. Também era extremamente dedicado ao trabalho. Ele se levantava muito cedo todos os dias, bem antes da hora do primeiro ofício.

Mas, acima de tudo, enfatizamos que Tomás de Aquino tinha uma grande devoção à Eucaristia. Diz-se até que ele colocava sua cabeça encostada ao sacrário (alguns historiadores dizem “dentro” do sacrário) para pedir ao Senhor que o inspirasse sobre o assunto de estudo no qual estava trabalhando. Deslumbrava-se diante do mistério eucarístico, o que pode ser comprovado ao ler os seus comentários teológicos e em seus poemas eucarísticos, tais como: o Adoro te e o Tantum ergo.

“O unigênito Filho de Deus, querendo fazer-nos participantes de Sua divindade, assumiu nossa natureza, para que, feito homem, divinizasse os homens. Assim, tudo quanto assumiu da nossa natureza humana, empregou-o para nossa salvação.

[...] De fato, nenhum outro sacramento é mais salutar do que este. [...] É oferecido na Igreja pelos vivos e pelos mortos, para que aproveite a todos o que foi instituído para a salvação de todos. [...] É ainda singular consolação que Ele deixou para os que se entristecem com Sua ausência.” 1

O Verbo de Deus é a plenitude do Amor Eterno. O Verbo se fez carne e sangue para que o Amor reine na terra como no Céu. Ele se tornou comida e bebida para que este Amor divino pulsasse em nossos corações humanos.

“Quem come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim, e Eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou e Eu vivo pelo Pai, também aquele que de mim se alimenta viverá por mim.” (Jo 6, 56-57)

Desde os seus primeiros passos, a Igreja, seguindo a tradição judaica, optou por celebrar a liturgia cotidiana: “Eles mostravam-se assíduos ao ensinamentos dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações” (At 2, 42).

A comunhão frequente não é uma novidade. Ela foi restaurada pelo Papa São Pio X (1835-1914). E os Padres da Igreja, por sua vez, ao comentarem sobre a quarta petição do Pai Nosso, entendem o pão de cada dia como o pão eucarístico. Por exemplo, São Cipriano de Cartago (200-258) afirma:

“Pedimos a dádiva deste pão, todos os dias; não aconteça que nós, que estamos em Cristo e diariamente recebemos Sua Eucaristia como alimento de salvação, sobrevindo algum pecado mais grave, nos abstenhamos e sejamos privados de comungar o pão celeste e venhamos a nos separar do corpo de Cristo.” 2

A Santa Eucaristia recebida diariamente conserva e aumenta a vida da alma na graça, assim como o alimento material sustenta e aumenta a vida do corpo. Certamente, a comunhão eucarística diária é exigente. Ela nos convida e nos reconduz a uma profunda comunhão com o Senhor, bem como com nossos irmãos.

No ato penitencial da Missa, os pecados veniais são perdoados e também é dada uma graça de proteção contra os pecados mortais. A Eucaristia produz a regeneração e a cura espiritual, enfraquece as paixões e a concupiscência. Ele aumenta em nós o fervor e nos dá a força do Espírito para fazer a vontade de Nosso Senhor e para segui-Lo todos os dias. A Eucaristia é o penhor da ressurreição de nosso corpo e da glória que está por vir.

Para entrarmos mais profundamente neste mistério Eucarístico, rezemos com a ajuda desta oração de Santo Tomás de Aquino e, quando possível, que nós a recitemos antes da celebração da Missa:

“Ó Deus eterno e todo poderoso, eis que me aproximo do Sacramento do vosso Filho único, Nosso Senhor Jesus Cristo. Doente, venho ao médico de quem minha vida depende. Impuro, venho à fonte da misericórdia; cego, à luz da eterna claridade; pobre e indigente, ao Senhor do céu e da terra. Imploro, pois, a vossa imensa e inesgotável generosidade para que vos digneis curar as minhas fraquezas, lavar as minhas manchas, iluminar a minha cegueira, enriquecer a minha pobreza, vestir a minha nudez.

Que eu receba o Pão dos Anjos, o Rei dos reis e o Senhor dos senhores com toda a reverência e humildade, com a contrição e a devoção, a pureza e a fé, a firmeza de propósito e a retidão de intenção que requer à salvação da minha alma

Concedei-me que receba não só o Sacramento do Corpo e Sangue do Senhor, mas também toda a virtude e a eficácia do Sacramento.

Ó Deus de mansidão, fazei-me acolher com tais disposições o Corpo que o vosso Filho único, Nosso Senhor Jesus Cristo, recebeu da Virgem Maria, que seja incorporado ao seu Corpo Místico e contado entre os seus membros.

Ó Pai cheio de amor, fazei que, recebendo agora vosso Filho sob o véu do Sacramento como convém ao meu estado de viajante, que eu possa um dia contemplá-lo com o rosto descoberto e por toda a eternidade.

Ele, que sendo Deus vive e reina convosco na unidade do Espírito Santo. Amém.”

Do altar da Eucaristia jorra a caridade sacramental de Cristo

A vida da Igreja tem a caridade como seu fim último. Esta caridade provém da caridade de Cristo, a qual traz a tríplice marca: de seu sacerdócio, de sua santidade e de sua realeza. É uma caridade reunida em torno do culto cristão, ou seja, a perpetuação do sacrifício da Cruz e a dispensação dos sacramentos. É caridade: cultual, sacramental e orientada.

Para o cardeal-teólogo Charles Journet, a ausência dos sacramentos constituiria uma grave carência:

Suprimir o culto cristão, suprimir a Missa ou os sacramentos, seria, ao mesmo tempo, suprimir a caridade em sua referência ao ato redentor de Cristo, seria suprimir a caridade enquanto cristão. [...] A exigência do amor não é dar ao Amado algo digno dele?” 3

“Como a luz, passando através de copos de colorações diferentes, é tingida de maneira diferente, assim a graça e a caridade, passando através de cada um dos sete sacramentos, assumem modalidades e cores diferentes. Mas precisamos explicar melhor esse caráter pleno da caridade sacramental.” 4

É através do Espírito Santo presente nos sacramentos que as graças do Senhor penetram nas almas. É através do Espírito Santo e em seu Nome, como no Nome do Pai e do Filho, que o Batismo é conferido; é o Espírito Santo que desce sobre aqueles que recebem a imposição das mãos dos apóstolos (cf. At 8, 17; 19, 6); é através do Espírito Santo que recebemos a purificação dos pecados (cf. Jo 20,22-23).

É pelo Espírito Santo, através dos sacramentos, que o Senhor enche a Igreja de graças. Ele a molda à semelhança de Cristo a partir de seu interior e associando-a à missão redentora de Cristo.

“Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos dará vida também a vossos corpos mortais, mediante o Seu Espírito que habita em vós.” (Rm 8, 11)

Citaremos várias definições do Cardeal Charles Journet, ele que foi um dos grandes teólogos do Concílio Vaticano II. Trata-se de uma teologia da santidade pelo seu modo particularmente luminoso e simples de interpretar a doutrina católica. Em relação à dimensão sacramental, podemos ler esta apresentação do cardeal-teólogo:

“O culto cristão é idêntico ao longo dos tempos por causa da própria presença de Cristo que age em seus membros para perpetuá-lo. ‘Continua sempre o mesmo, consiste sempre em dar uma espécie de perenidade aos gestos de Jesus’. É sempre na Missa a Cruz que se eleva; é sempre no Batismo que a morte e a ressurreição do Salvador se realiza; é sempre na Confissão que o sangue do Redentor jorra; em suma, é sempre Ele que confere os sacramentos através do ministério dos sacerdotes. É sempre a vida de Cristo que forma o pano de fundo do ano litúrgico. Advento, Natal, Quaresma, Páscoa são apenas sua história, que continua no povo cristão. 5

O Senhor instituiu os sacramentos para agir através deles como meio ordinário de difundir abundantemente Seus dons e comunicar Suas graças “ex opere operato”, ou seja, não independentemente das disposições dos que creem, mas além delas.

“O Espírito Santo, uma vez recebido nos sacramentos, não deixa de agir diretamente nos corações [...] de modo que quem pede dois recebe quatro e quem pede quatro recebe oito. Pelo contrário, ele entra com mais liberdade e generosidade do que antes. Ele preserva a graça sacramental, ele a incrementa; quando o pecado a assolou, ele trabalha para revivê-la, suscitando nos pecadores movimentos de contrição perfeita. Ele nunca deixa de purificar, de iluminar e de santificar os fiéis. Ele os impulsiona aos exercícios das virtudes comuns. Ele pretende elevá-los mais alto, levá-los, por seu próprio poder, aos atos perfeitos glorificados no Sermão da Montanha, as bem-aventuranças. Ele os faz, de uma forma cada vez mais verdadeira, filhos de Deus.” 6

“Se todos os sacramentos santificam neste primeiro e principal sentido que conferem a graça, três sacramentos, o batismo, a confirmação e a ordem, santificam de outra maneira no sentido de que conferem um poder cultual ou sacramental, uma consagração.

O batismo imprime na alma a primeira das consagrações cristãs. Se, como São Paulo declara, o batizado é incorporado a Cristo a ponto de tornar-se ‘um só ser’ com Ele (Rm 7 1-11).” 7

“A vida de Cristo é comunicada a seus membros através dos sacramentos: o batismo nos incorpora a Cristo morto e ressuscitado, a Eucaristia consuma esta união.” 8

A Liturgia da Eucaristia, como Sacramento da Unidade, é o lugar ordinário da comunidade e da sinodalidade, é um evento de encontro, acontecimento que reúne.

Os que creem estão reunidos na participação estruturada do mistério de Cristo: celebrado pelos ministros ordenados e distribuído a todos até o fim dos tempos. A comunhão sacramental é o sinal da comunhão eclesial, mas é também o lugar de envio em missão para que se realize a oração de Jesus: “que todos sejam um” (Jo 17, 21).

“O que o batismo começou, a Eucaristia vai pedir para ser consumada. É, por excelência, o sacramento da unidade da Igreja. É a instância suprema destinada a nos fazer entrar na Paixão do Salvador. A união dos cristãos com Cristo é simbolizada pela união de assimilação, ou seja, pela mais forte união que a realidade visível pode oferecer; mas há uma inversão: o alimento material, que é inanimado, causa a vida apenas ao se deixar assimilar, enquanto que o Pão em questão é Vida e dá vida ao assimilar: ‘aquele que de mim se alimenta viverá por mim’ (Jo 6, 57).” 9

A Eucaristia é, sem nenhuma dúvida, o maior dos sacramentos, a “sua coroação” 10 como declara Charles Journet. Porque as santificações conferidas por todos os sacramentos preparam para receber ou para consagrar a Eucaristia.
Voltemos novamente a Santo Tomás de Aquino, que escreve:

“É manifesto que os sacramentos da Igreja tiram especialmente a sua virtude da Paixão de Cristo, cuja virtude de algum modo se nos une a nós pela recepção dos sacramentos. Para sinal do que, do lado de Cristo pendente da Cruz correu água e sangue, simbolizando aquela o batismo e este à Eucaristia os dois principais dos sacramentos.” 11

Entre as mais belas palavras do Cardeal Charles Journet sobre a Eucaristia temos:

“Toda Missa é, através da Cruz de Cristo, uma grande bênção, uma silenciosa explosão de amor, uma grande descida de Deus ao mundo para evitar que pereça e que o mal nele prevaleça completamente sobre o bem. E, em troca, toda Missa provoca, numa parte escondida do mundo, uma resposta de amor que, através da cruz de Cristo, sobe a Deus...” “Um padre que não celebra mais a missa todos os dias é um padre que não sabe mais quem ele é.” 12

A graça sacramental: remédio para nossa peregrinação terrena

O Senhor nos dá sua mais rica graça através dos sacramentos evangélicos. E a teologia da Igreja enfatiza a Eucaristia como superior a todos os sacramentos: “A Eucaristia é o sacramento da unidade suprema da Igreja” 13, foi ela que o Senhor instituiu na véspera de Sua morte, deixando-nos Sua mesma presença corporal que outrora iluminou a Palestina antes de ascender à Sua glória.

A Igreja do Evangelho é a Igreja do Verbo Encarnado, pois ela é visitada até as suas profundezas pela lei da encarnação. Ela é aquela em quem o próprio Cristo habita corporalmente e em quem habita o Espírito, isto é, Aquele que até então “ainda não tinha sido dado” (cf. Jo 7, 39).

“Se o Espírito Santo quer se tornar o Princípio, e ainda mais o Hóspede da Igreja, será necessário que os homens chamados a servir destinos tão elevados sejam revestidos de dons espirituais que serão como uma efusão das riquezas do sacerdócio, da santidade, da realeza depositada por eles na santa humanidade de Cristo, Cabeça da Igreja. Estes dons serão, na linha de culto, as marcas indeléveis impressas nas almas dos cristãos pelos sacramentos do Batismo, da Confirmação e, para alguns deles, da Ordem.” 14

Isto significa que esses dons estão todos incluídos, por excelência, no Dom do Espírito Santo, que é o Amor divino. Permanece entendido que estes sacramentos serão tornado eficazes na medida em que aqueles que os celebram, os aceitem e se disponham a vivê-los livremente pela fé e pela obediência.

De forma indissolúvel, o mistério de Cristo une em Sua Pessoa: o Verbo, isto é, o invisível; e a carne, isto é, o visível. De forma semelhante, a Igreja, em seu ser coletivo, une indissoluvelmente em si mesma os dons do Espírito, isto é, o invisível; e as realidades corpóreas, isto é, o visível.

Portanto, a vida espiritual não pode ser desconectada da vida encarnada. Pelo contrário, uma forte vida espiritual permite que as pessoas se tornem mais profundamente humanas e sintonizadas com a realidade da vida social concreta.

É o próprio Senhor que comunica Sua graça nas almas. No entanto, Ele transmite Suas graças através de mediações humanas (ministros) como puros instrumentos. A dispensação destas graças divinas nas almas não está condicionada pela santidade do ministro. Quando se diz que os sacramentos agem ex opere operato em relação ao ministro, significa que as disposições pessoais do ministro não influenciam sobre o efeito do sacramento.

A ação divina santificadora é exercida independentemente de suas disposições morais de santidade ou indignidade, de maneira infalível; os ministros dos sacramentos são puros transmissores de moções que vêm do próprio Cristo e que, em almas preparadas, florescem em graças.” 15

“‘Mas, quando vier o que é perfeito’ (1Cor 13, 10), cessará o uso dos sacramentos; porque os bemaventurados na glória celeste não necessitam do remédio sacramental. Gozam sem fim da presença de Deus, contemplando a Sua glória face a face, e, transformados de claridade em claridade no abismo da divindade, fruem a visão do Verbo de Deus encarnado, como foi no princípio e permanecerá para sempre.” 16

As graças sacramentais, fonte de unidade na Igreja

A caridade transmitida pelos sacramentos nos incorpora plenamente a Cristo e nos reúne Nele. Para Charles Journet, a unidade da Igreja é realizada em três dimensões: a unidade de comunhão, a unidade de conexão e unidade de orientação. É a unidade de comunhão que concretiza a unidade plena e essencial da Igreja. Os dois aspectos de conexão e de orientação são complementares na realização da unidade total, sem a qual a Igreja não seria a Igreja.

Desde seu início, a Igreja Una se apresenta com grande diversidade, proveniente tanto da variedade dos dons e carismas de Deus, quanto da multiplicidade das pessoas que os recebem. Nesta unidade do povo de Deus, se reúnem também a diversidade dos povos e das culturas. “Na comunhão eclesial existem legitimamente igrejas particulares com tradições próprias” 17.

A grande riqueza desta diversidade não se opõe à unidade da Igreja. No entanto, o pecado e o peso das consequências do pecado ameaçam sem cessar o dom da unidade. Assim, o apóstolo exorta a “conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz (Ef 4, 3).

“É o princípio da unidade fundamental e mística da Igreja, sua unidade de conexão. Na medida em que recebe e interioriza nelas as diretrizes jurisdicionais, a caridade é o princípio da unidade profética da Igreja, sua unidade de orientação.[...]

A Igreja, misticamente emanada de Cristo através dos sacramentos e, portanto, fundamentalmente una, exige imperiosamente ser a Igreja profeticamente orientada por uma direção única, vinda de Cristo e de seu vigário, o pastor de suas ovelhas. [...]

O pecado muito especial contra a caridade, que se chama cisma, pode começar recusando seja a unidade de conexão com os membros da Igreja seja a unidade de orientação e submissão ao chefe da Igreja. Estas duas recusas não são independentes; uma está implicada na outra.” 18

O Catecismo da Igreja especifica os três componentes da unidade da Igreja em sua fonte:

“A Igreja é una, graças à sua fonte: ‘O supremo modelo e princípio deste mistério é a unidade na Trindade das pessoas, dum só Deus, Pai e Filho no Espírito Santo’.
A Igreja é una graças ao seu Fundador: ‘O próprio Filho encarnado [...] reconciliou todos os homens com Deus pela Sua Cruz, restabelecendo a unidade de todos num só povo e num só Corpo’.

A Igreja é una graças à sua ‘alma’:O Espírito Santo que habita nos crentes e que enche e rege toda a Igreja, realiza esta admirável comunhão dos fiéis e une-os todos tão intimamente em Cristo que é o princípio da unidade da Igreja’. Pertence, pois, à própria essência da Igreja que ela seja una: ‘Que admirável mistério! Há um só Pai do universo, um só Logos do universo e também um só Espírito Santo, idêntico em toda a parte; e há também uma só Virgem que se tornou mãe, à qual me apraz chamar Igreja’.” 19

Deixemos a última palavra para o Cardeal Charles Journet, uma palavra sobre a Igreja para nossa reflexão:

“Se a Igreja se dobrasse, ela seria menos perseguida. Se não formasse uma unidade orgânica, mas uma unidade federativa, os Estados não mais a acusariam tanto de submeter seus próprios cidadãos a uma ‘potência estrangeira’. Se cedesse nas questões onde o espiritual toca o temporal, se ela se fechasse nas sacristias, se se contentasse em suscitar sentimentos individuais, seria deixada tranquila, ou mesmo nacionalizada. O milagre é que, sendo o que ela é, permanece no mundo há dois mil anos.” 20

O Apóstolo Paulo menciona esta fonte trinitária das primeiras liturgias cristãs quando deseja aos fiéis em Corinto: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (2 Cor 13, 13)

Referências:

1-Santo Tomás de Aquino, Sermão da Festa de Corpus Christi, citado em Liturgia das Horas, Ofício das Leituras.

2 São Cipriano, Tratado sobre a Oração do Senhor, citado em Liturgia das Horas, Ofício das Leituras.

3Cardeal Charles Journet, Le Traité de L’Église (Tratado da Igreja), cap. VI, I, 2.

4 Ibidem, cap. VI, I, 3.

5Cardeal Charles Journet, Le Traité de L’Église (Tratado da Igreja), cap. V, II, 1.

6 Ibidem, cap. III, II. 7 Ibidem, cap. V, II, 1. 8 Ibidem, Conclusão, Anexo 1, 2.

9Cardeal Charles Journet, Le Traité de L’Église (Tratado da Igreja), cap. VI, I, 3.

10 Ibidem

11 São Tomás de Aquino, Suma Teologica, III, q. 62, a. 5.

12Pascale Della Santa, Le cardeal Journet, un homme transparent au mystère, artigo publicado na revista Terre de compassion.

13Cardeal Charles Journet, Le Traité de L’Église (Tratado da Igreja), cap. II, I, 3.

14 Cardeal Charles Journet, Le Traité de L’Église (Tratado da Igreja), cap. I, I, 3.

15Cardeal Charles Journet, Le Traité de L’Église (Tratado da Igreja), cap. V, III, 5.

16Tomás de Kempis, A Imitação de Jesus Cristo, Livro IV, cap. 11, 2.

17Conc. Ecum. Vaticano II. Constituição Dogmática Lumen Gentium, (1964), n. 11.

18Cardeal Charles Journet, Le Traité de L’Église (Tratado da Igreja), cap. VI, I, 5

19Catecismo da Igreja Católica, n. 813

20Cardeal Charles Journet, Le Traité de L’Église (Tratado da Igreja), cap. X, II, 2