A paternidade e a maternidade responsáveis | Palavra do Fundador | JULHO

 

Diácono Georges Bonneval

A grandeza da união, da procriação e da educação A formação deste mês de julho foi baseada na "Carta às Famílias" de São João Paulo II (publicada em 1994), uma Carta Apostólica escrita pelo Papa durante o Ano Internacional da Família, por iniciativa das Nações Unidas para o ano de 1994. Esta Carta, que terá em breve trinta anos, não envelheceu de todo e pode realmente ser estudada como um ensino pastoral atual.

Este documento, assim como o "Familiaris Consortio" de São João Paulo II (1981) e o "Amoris Laetitia" do Papa Francisco (2016), dão-nos matéria para reflexão sobre as responsabilidades no seio da família. A família, enquanto comunidade de pessoas (engajadas), é certamente a mais antiga instituição humana e constitui a célula fundamental da sociedade. Para os que creem, tem a sua origem no amor do Criador pelo mundo criado, como é dito "no princípio" no Livro do Gênesis (cf. Gn 1, 1).

O Papa João Paulo II afirma: "A família foi sempre considerada como a primeira e fundamental expressão da natureza social do homem." ¹ Cristo, o Filho unigênito do Pai, entrou na história humana através de uma família: "Pela sua encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-Se de certo modo a cada homem. Trabalhou com mãos humanas, (...) amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-Se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado". Foi na família que Ele escolheu nascer, crescer e preparar a sua vocação. "O mistério divino da Encarnação do Verbo está, pois, em estreita relação com a família humana. Não apenas com uma — a de Nazaré —, mas de certa forma com cada família (…) Seguindo a Cristo que 'veio' ao mundo 'para servir' (cf. Mt 20, 28), a Igreja considera o serviço à família uma das suas obrigações essenciais. Neste sentido, tanto o homem como a família constituem 'a via da Igreja'." ²

O Concílio do Vaticano II adotou uma expressão que teve a sua origem nos primórdios do Cristianismo. Com efeito, a família, de uma forma significativa, é vista como a "igreja doméstica". É a partir da sua família que cada pessoa humana vive o seu desenvolvimento, as suas etapas de educação e crescimento, bem como a sua vida de fé, a liturgia e os seus ritmos próprios.

É por isso que, desde a infância, a consciência moral deve ser despertada e educada na família, para o que é bom, belo e verdadeiro, a fim de que a liberdade de cada pessoa seja ajudada e orientada. Assim, a família é também chamada o "santuário da vida". "A experiência demonstra como o papel de uma família coerente com a norma moral é importante para o homem, que nela nasce e se forma, ingressar sem hesitações pela estrada do bem, inscrito sempre no seu coração." ³

A chave de interpretação da realidade da família humana e a da paternidade e maternidade responsável encontra-se no princípio da "imagem" e "semelhança" de Deus, que o texto bíblico (cf. Gn 1, 26) realça.

Como o Papa João Paulo II salienta: "A paternidade e a maternidade humana, mesmo sendo biologicamente semelhantes às de outros seres da natureza, têm em si mesmas de modo essencial e exclusivo uma 'semelhança' com Deus, sobre a qual se funda a família, concebida como comunidade de vida humana, como comunidade de pessoas unidas no amor (Communio personarum)". ⁴

Como escreve o Papa João Paulo II, a aliança matrimonial enriquece e aprofunda a comunhão conjugal entre o esposo e a sua esposa, e entre o pai e a mãe com seus filhos. Quando esta comunhão está de alguma maneira impedida, devemos perguntar-nos se o egoísmo, que se esconde nos corações devido à inclinação humana para o mal, não está mais forte do que este amor. É necessário, portanto, que desde o início os cônjuges voltem os seus corações e pensamentos para Deus: "do qual toda a paternidade e maternidade recebe o nome" (cf. Ef 3, 14-15), "a fim de que a sua paternidade e maternidade tirem daquela fonte a força de se renovarem continuamente no amor".

Paternidade e maternidade, uma responsabilidade que se pratica de joelhos

A realidade da paternidade e da maternidade constitui uma "novidade" e uma riqueza, tão admiráveis, que só podem ser abordadas "de joelhos", declara o Papa.

"O matrimônio sacramental é uma aliança de pessoas no amor. E o amor pode ser aprofundado e guardado apenas pelo Amor, aquele Amor que é 'derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi concedido (Rm 5, 5)'."

“Certamente, a paternidade e a maternidade humanas estão enraizadas na constituição biológica e, ao mesmo tempo, ultrapassam-na. Pois na biologia da geração, que é uma continuação da criação, está inscrita a genealogia da pessoa. "A origem do homem não obedece apenas às leis da biologia, mas sim e diretamente à vontade criadora de Deus: é a esta vontade que se fica a dever a genealogia dos filhos e filhas das famílias humanas. Deus 'quis' o homem desde o princípio — e Deus 'o quer' em cada concepção e nascimento humano."

Assim, cada geração encontra o seu modelo original na paternidade de Deus. É por isso que os cônjuges desejam filhos seus, vendo neles a coroação do seu amor e desejando-os como um dom muito precioso. A Sagrada Escritura descreve em vários lugares a iniciativa amorosa de Deus e o desejo que cada um dos seus filhos exista. Entre outros, podemos citar:

"Sim, tu amas tudo o que criaste, não te aborreces com nada do que fizeste; se alguma coisa tivesses odiado, não a terias feito." (Sb 11, 24)

"Antes mesmo de Te formar no ventre materno, Eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei. Eu te constituí profeta para as nações." (Jr 1, 5)

O Papa João Paulo II escreve: "No instante mesmo da concepção, o homem já está ordenado para a eternidade em Deus".

Nas palavras do ritual do consentimento matrimonial, é definido o que constitui o bem comum do casal e da família. O dos esposos: amor, fidelidade, respeito, a duração da sua união até à morte, "todos os dias da sua vida".

O bem de ambos os esposos é chamado a tornar-se o bem dos filhos. No ritual do sacramento do matrimônio, a Igreja pergunta aos futuros esposos se estão dispostos a acolher e educar de uma forma cristã os filhos que Deus lhes quiser dar.

Esta paternidade e maternidade é uma tarefa de natureza não somente física e humana, mas também espiritual.

"Quanto mais for comum o bem, tanto mais ele será próprio: meu — teu — nosso. Esta é a lógica intrínseca do viver no bem, na verdade e no amor. Se o homem sabe acolher esta lógica e segui-la, a sua existência torna-se verdadeiramente um 'dom sincero'." ⁹

O homem não pode encontrar-se plenamente a não ser no dom desinteressado de si mesmo

Esta citação do título é retirada da Constituição Conciliar Gaudium et Spes (n.24).

Quando, no casamento, um homem e uma mulher se dão e recebem-se reciprocamente, a lógica do dom desinteressado entra em suas vidas. Na sua doação mútua, o carácter esponsal do amor é manifestado.

"Amar significa dar e receber aquilo que não se pode comprar nem vender, mas apenas livre e reciprocamente oferecer". ¹⁰

Este dom desinteressado e amoroso está enraizado no dom do Deus Criador e Redentor, e na graça do Espírito Santo derramada no Pentecostes.

"Por isso, a família permanece uma instituição social que não se pode nem deve substituir: é 'o santuário da vida'." ¹¹

"A consciência daquele dom sincero de si, pelo qual o homem 'encontra-se a si mesmo', deve ser solidamente renovada e constantemente garantida, defronte às muitas oposições que a Igreja encontra por parte dos fautores de uma falsa civilização do progresso." ¹²

A família, ao expressar uma nova dimensão do bem para as pessoas, cria uma nova responsabilidade. Uma responsabilidade para o bem comum, onde reside o bem de cada membro da comunidade familiar. "Um bem certamente 'difícil' (bonum arduum), mas fascinante", diz o Papa João Paulo II.

Paternidade e maternidade responsáveis

O casamento implica uma responsabilidade singular em relação ao bem comum dos cônjuges e, em primeiro lugar, em relação ao bem da família. É constituído pelo valor da pessoa e por tudo o que dá a medida da sua dignidade. Dignidade a ser reconhecida em todos os sistemas sociais, econômicos e políticos. No contexto do casamento e da família, esta responsabilidade compromete ainda mais.

O Papa João Paulo II recorda então as duas dimensões essenciais da união conjugal: a união do casal e a procriação.

"Paternidade e maternidade responsável referem-se diretamente ao momento em que o homem e a mulher, unindo-se 'numa só carne', podem tornar-se pais. É momento impregnado de um valor peculiar, quer pela sua relação interpessoal quer pelo seu serviço à vida: eles podem-se tornar progenitores — pai e mãe —, comunicando a vida a um novo ser humano. As duas dimensões da união conjugal, a unitiva e a procriadora, não podem ser separadas artificialmente sem atentar contra a verdade íntima do próprio ato conjugal." ¹⁴

"No momento do ato conjugal, o homem e a mulher são chamados a confirmar de modo responsável o dom recíproco, que de si fizeram na aliança matrimonial. Ora, a lógica do dom ao outro na totalidade de si mesmo comporta a potencial abertura à procriação: o matrimônio é chamado assim a realizar-se ainda mais plenamente como família." ¹⁵

O Papa João Paulo II refere-se à contribuição das ciências humanas, especialmente as relacionadas com a medicina, que se desenvolveram em diferentes especialidades: como a biologia, a psicologia, a sociologia e as suas posteriores ramificações... Ao serviço da vida e da saúde humanas. Assim, os profissionais que exercem estas ciências - diz o Papa - recebem uma espécie de formação sobre os casais, para que, por sua vez, possam instruí-los, de forma mais competente, no sentido de uma procriação responsável e nas formas de praticá-la.

O Papa encoraja o sempre crescente grupo de peritos, médicos e educadores... "verdadeiros apóstolos leigos, para os quais a promoção da dignidade do matrimônio e da família se tornou uma tarefa importante da sua vida. Em nome da Igreja, digo a todos o meu obrigado! Sem eles, que poderiam fazer os Sacerdotes, os Bispos e até mesmo o próprio Sucessor de Pedro?" ¹

Uma "responsabilidade especial" é vivida no ato conjugal

"Toda a vida no matrimônio é dom; mas isso torna-se singularmente evidente quando os cônjuges, oferecendo-se reciprocamente no amor, realizam aquele encontro que faz dos dois 'uma só carne' (cf. Gn 2, 24). Eles vivem, então, um momento de especial responsabilidade, também em razão da potencialidade procriadora conexa com o ato conjugal. (…) a responsabilidade do homem e da mulher, responsabilidade potencial que se torna efetiva." ¹⁷

O Papa considera então realisticamente as consequências da recusa e da rejeição de responsabilidade. Para o Papa, ninguém pode deixar de reconhecer, ou aceitar, o resultado de uma decisão que também foi sua, tanto do lado do homem como da mulher: "Não se pode esconder por detrás de expressões como: 'não sei', 'não queria', ' foste tu que quiseste'. A união conjugal comporta em todo o caso a responsabilidade do homem e da mulher, responsabilidade potencial que se torna efetiva quando as circunstâncias o impuserem". ¹⁸

E, neste sentido, tanto os homens como as mulheres devem assumir em conjunto a responsabilidade, para consigo próprio e para com os outros, pela nova vida que suscitaram.

As duas civilizações: a "civilização do amor" e a possibilidade de uma "anti-civilização"

A família é a base do que Paulo VI chamou a "Civilização do Amor". Esta expressão profética do Papa Paulo VI, que se tornou familiar, foi utilizada pela primeira vez em 25 de dezembro de 1975, na sua homilia no encerramento do Ano Santo.

O termo "civilização" vem etimologicamente de "civis", que significa "cidadão", e enfatiza a dimensão política da existência de cada indivíduo. Mas o seu significado mais profundo é sobretudo "humanista".

"A civilização pertence à história do homem, porque corresponde às suas exigências espirituais e morais: criado à imagem e semelhança de Deus, ele recebeu o mundo das mãos do Criador com o compromisso de o plasmar à própria imagem e semelhança." ¹⁹

A civilização do amor assumiu o seu pleno significado a partir da revelação de Deus que "é Amor"(cf. Jo 4, 8.16). Desenvolve-se através do cultivo constante de que fala a alegoria evangélica da videira e dos ramos.

"A família está organicamente unida com tal civilização" escreveu o Papa João Paulo II ²⁰. Ela é mesmo "o centro e o coração da civilização do amor". Mas, "se por um lado existe a 'civilização do amor', por outro lado permanece a possibilidade de uma 'anti-civilização' destruidora, como se confirma hoje por tantas tendências e situações concretas". ²¹

"Quem pode negar que a nossa seja uma época de grande crise, que se exprime sobretudo como profunda 'crise da verdade'? Crise da verdade significa, em primeiro lugar, crise de conceitos. Os termos 'amor', 'liberdade', 'dom sincero', e até mesmo os de 'pessoa', 'direitos da pessoa', significarão na realidade aquilo que por sua natureza contêm?" ²²

Na sua Carta, o Papa João Paulo II menciona então várias características desta "anti-civilização". São elas: "positivismo", que produz como frutos o "agnosticismo" nos campos teóricos e o "utilitarismo" nos campos éticos e práticos. "O utilitarismo é uma civilização da produção e do desfrutamento, uma civilização das 'coisas' e não das 'pessoas'; uma civilização onde as pessoas se usam como se usam as coisas".

"No contexto da civilização do desfrutamento, a mulher pode tornar-se para o homem um objeto, os filhos um obstáculo para os pais, a família uma instituição embaraçante para a liberdade dos membros que a compõem."²³

O Papa prossegue citando situações concretas da atual "anti-civilização" (em 1994, já fazem quase 30 anos!):

"Certos programas de educação sexual introduzidos nas escolas, não obstante o frequente parecer contrário e até os protestos de muitos pais; ou então, as tendências pró-abortistas que em vão procuram esconder-se atrás do chamado 'direito de escolha' (pro choice) por parte de ambos os cônjuges, e particularmente por parte da mulher. São apenas dois exemplos dos muitos que se poderiam recordar." ²⁴

Numa tal situação cultural, é evidente que a família não pode deixar de se sentir ameaçada e atacada nos seus próprios fundamentos.

"Tudo o que seja contrário à civilização do amor, é contrário à verdade integral do homem e torna-se para ele uma ameaça: não lhe permite encontrar-se a si mesmo e sentir-se seguro como cônjuge, como pai, como filho. O chamado 'sexo seguro', propagandeado pela 'civilização técnica', na realidade é, sob o perfil das exigências globais da pessoa, radicalmente não-seguro, e mais, gravemente perigoso. A pessoa ali, de fato, encontra-se em perigo, tal como em perigo fica, por sua vez, a família." ²⁵

Qual é o perigo? É – escreve o Papa – perder a verdade sobre a própria família, ao que se junta o perigo de perder a liberdade e, portanto, de perder o próprio amor.

"Um amor não 'belo', ou seja, reduzido à mera satisfação da concupiscência (cf. Jo 2, 16), ou a um 'uso' recíproco do homem e da mulher, torna as pessoas escravas das suas fraquezas. Não conduzem a esta escravidão certos 'programas culturais' modernos? São programas que 'jogam' com as fraquezas do homem, tornando-o assim sempre mais débil e indefeso." ²⁶

"Uma civilização, inspirada numa mentalidade consumista e anti-natalista, não é uma civilização do amor nem o poderá ser nunca." ²⁷

A civilização do amor convida à alegria: "alegria, para além do mais, porque um homem vem ao mundo (cf. 1 Jo 16, 21) e, consequentemente, porque os cônjuges se tornam pais". ²⁸

"Civilização do amor significa 'comprazer-se com a verdade' (cf. 1 Cor 13, 6)." ²⁹

"Se a família é tão importante para a civilização do amor, isto fica-se a dever à especial proximidade e intensidade dos laços que nela se instauram entre as pessoas e as gerações." ³⁰

Mesmo se "ela continua vulnerável e pode facilmente sucumbir aos perigos que enfraquecem ou até destroem a sua união e estabilidade." ³¹

O amor é exigente

O amor, como o Apóstolo Paulo o descreve no seu hino (cf. 1 Cor 13), é "paciente", "prestativo" e "tudo suporta" (cf. 1 Cor 13, 4.7), e é, certamente, um amor exigente.

"Nisto mesmo está a sua beleza: no fato de ser exigente", escreve o Papa João Paulo II, "porque deste modo constrói o verdadeiro bem do homem e irradia-o também sobre os outros".

"De fato, o bem pela sua natureza 'tende a difundir-se', como diz Santo Tomás". ³²

"O amor é verdadeiro, quando cria o bem das pessoas e das comunidades, cria e dá-lo aos outros. Somente quem, em nome do amor, sabe ser exigente consigo próprio, pode também exigir o amor dos outros. Porque o amor é exigente. É-o em todas as situações humanas; ainda mais o é para quem se abre ao Evangelho. Não é isso que Cristo proclama no 'seu' mandamento? É preciso que os homens de hoje descubram este amor exigente, porque nele está o alicerce verdadeiramente firme da família, um alicerce que é capaz de 'tudo suportar'. (…) Nele atua a poderosa força de Cristo, Redentor do homem e Salvador do mundo." ³³

Como abordamos no Compêndio de 2021: a pessoa realiza-se através do exercício da liberdade na verdade. A verdadeira liberdade não é a capacidade de fazer o que quer que seja, mas realiza-se na sua plenitude através do dom de si mesmo. Esta noção de dom apela não só à dimensão de "direito" da pessoa, mas também à dimensão de "dever".

A chave para a resposta se encontra no "dom desinteressado"

O Papa denuncia a antítese entre: individualismo e personalismo. A civilização do amor está relacionada com o personalismo. Por que precisamente do personalismo? Porque o individualismo representa uma ameaça para a civilização do amor.

"O individualismo supõe um uso da liberdade onde o sujeito faz o que quer, 'estabelecendo' ele mesmo 'a verdade' daquilo que lhe agrada ou se lhe torna útil. Não admite que outros 'queiram' ou exijam algo dele, em nome de uma verdade objetiva. Não quer 'dar' a outrem sobre a base da verdade, não quer tornar-se um dom 'sincero'. O individualismo permanece, por conseguinte, egocêntrico e egoísta." ³⁴

Em grego, a palavra Ethos significa maneira de ser, o comportamento de uma pessoa. "O 'ethos' do personalismo é altruísta: leva a pessoa a fazer-se dom para os outros e a encontrar alegria no doar-se. É a alegria de que fala Cristo (cf. Jo 15, 11; 16, 20.22)." ³⁵

Por outro lado, o que é vulgarmente chamado "amor livre" é inegavelmente - diz o Papa - oposto à civilização do amor.

"Tanto mais perigoso por ser habitualmente proposto como fruto de um sentimento 'verdadeiro', quando efetivamente destrói o amor. Quantas famílias levadas à ruína precisamente pelo 'amor livre'! Seguir em qualquer caso o 'verdadeiro' impulso afetivo, em nome de um 'amor' livre de condicionamentos, na realidade significa tornar o homem escravo daqueles instintos humanos, que S. Tomás chama 'paixões da alma'."³⁶

"O 'amor livre' explora as fraquezas humanas, conferindo-lhes uma certa 'moldura' de nobreza com a ajuda da sedução e com o favor da opinião pública. Procura-se assim 'tranquilizar' a consciência, criando um 'álibi moral'. Mas não se tomam em consideração todas as consequências que daí derivam, especialmente quando a pagá-las são, para além do cônjuge, os filhos, privados do pai ou da mãe e condenados a serem, de fato, órfãos de pais vivos." ³⁷

Utilitarismo: a liberdade e a busca da felicidade sem responsabilidade

O Papa considera a situação das pessoas que se colocam fora e mesmo em oposição aos requisitos objetivos do verdadeiro bem, na busca de uma felicidade "utilitária", baseada no prazer, na busca contínua da felicidade máxima, na satisfação imediata e exclusiva do indivíduo numa liberdade sem responsabilidade... Isto constitui, diz o Papa: a antítese do amor.

"Quando um tal conceito de liberdade encontra aceitação na sociedade, aliando-se facilmente com as mais variadas formas de fraqueza humana, rapidamente se revela como uma sistemática e permanente ameaça para a família." ³⁸

As famílias que tiveram de sofrer destas tendências desviantes poderão encontrar o caminho da cura e da salvação, regressando a Cristo e à Sua graça, especialmente através do sacramento do perdão e da reconciliação.

"O amor dos cônjuges e dos pais possui a capacidade de curar semelhantes feridas, se as insídias recordadas não o privarem da sua força de regeneração, tão benéfica e salutar para as comunidades humanas. Tal capacidade depende da graça divina do perdão e da reconciliação, que assegura o vigor espiritual para começar sempre de novo." ³⁹

Como conclusão deste capítulo sobre a paternidade e maternidade responsáveis, o Papa João Paulo II recorda a importância da oração com as famílias e pelas famílias, especialmente as ameaçadas pela divisão.

"É necessário rezar para que os cônjuges amem a sua vocação, mesmo quando a estrada se torna difícil ou conhece passagens estreitas e íngremes, aparentemente insuperáveis; rezar, a fim de que mesmo então permaneçam fiéis à sua aliança com Deus." ⁴⁰

Quando os pais erram, como se pode culpar o filho? A ética educacional também tem uma repercussão óbvia como ética de exemplaridade, ou seja, preocupada com as consequências. Os pais responsáveis são certamente aqueles que assumem as suas decisões, as suas ações e as suas consequências, na sua forma de ser e de agir com cada um dos seus filhos.

"'A família é a via da Igreja'. Nesta Carta, desejamos professar e anunciar juntos esta via, que, através da vida conjugal e familiar, conduz ao reino dos Céus (cf. Mt 7, 14). É importante que a 'comunhão das pessoas' na família se torne preparação para a 'comunhão dos Santos'. Eis porque a Igreja confessa e anuncia o amor que 'tudo suporta' (cf. 1 Cor 13, 7), vendo nele, com S. Paulo, a virtude 'maior' (cf. 1 Cor 13, 13). O Apóstolo não coloca limites a ninguém. Amar é vocação de todos, também dos esposos e das famílias. Na Igreja, de fato, todos são igualmente chamados à perfeição da santidade (cf. Mt 5, 48).” ⁴¹

"Cântico das subidas. Felizes todos os que temem ao Senhor e andam em Seus caminhos! Do trabalho de Tuas mãos comerás, tranquilo e feliz: Tua esposa será vinha fecunda, no recesso do teu lar; teus filhos, rebentos de oliveira, ao redor de tua mesa. Assim vai ser abençoado o homem que teme ao Senhor. Que o Senhor te abençoe de Sião, e verás a prosperidade de Jerusalém todos os dias de tua vida; e verás os filhos de teus filhos. Paz sobre Israel!" (Sl 128 (127), 1-6).

Referências Bibliográficas

¹ Papa João Paulo II, Carta às Famílias, 2 de fevereiro de 1994, n.7.

2 Ibidem, nº 2.

3 Idem.

4 Papa João Paulo II, Carta às Famílias, nº 6.

5 Ibidem, nº 7

6 Idem.

7 Ibidem, nº 9

8 Idem.

9 Ibidem, nº 10.

10 Ibidem, nº 11.

11 Idem

12 Idem

13 Idem, nº 11.

14 Ibidem, nº 12.

15 Idem

16 Idem

17 Ibidem, nº 12

18 Ibidem

19 Ibidem, nº 13

20 Idem

21 Idem

22 Idem

23 Ibidem, nº 13

24 Idem

25 Idem

26 Idem

27 Idem

28 Idem

29 Idem

30 Idem

31 Idem

32 Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, IQu. 73a. 3 ob. , “A palavra bênção vem da bondade. Agora o bem é difuso e comunicativo de si mesmo”.

33 Papa João Paulo II, Carta às Famílias, nº 14

34 Idem

35 Idem

36 Idem

37 Idem

38 Idem

39 Idem

40 Idem

41 Idem