A necessidade da moral sexual cristã: Passar do utilitarismo ao personalismo

 

Amor e Responsabilidade” de Karol Wojtyla (1/2)
São João Paulo II

Diácono Georges Bonneval

Introdução

O livro “Amor e Responsabilidade” foi publicado em 1965 por Dom Karol Wojtyla, quando era Arcebispo de Cracóvia. Tornou-se Papa São João Paulo II no dia 16 de outubro de 1978 até 2 de abril de 2005, dia da sua morte.

No seu país de origem, a Polônia, o jovem Pe. Karol acompanhou espiritualmente muitos estudantes e casais. O mistério do casamento e do amor humano sempre o fascinou particularmente. Ele próprio testemunha disso neste livro:

“O amor não se ensina, e no entanto, não há nada no mundo de que um jovem precise tanto aprender! Quando eu era jovem sacerdote, aprendi a amar o amor humano. Foi um dos temas que direcionaram durante todo o meu sacerdócio, o meu ministério na pregação, no confessionário e através do que escrevi. Se realmente amamos o amor humano, sentimos a necessidade urgente de nos comprometermos com todas as nossas forças em prol do grande amor.” ¹

Estudou depois filosofia e teologia em Roma, meditando sobre o mistério do Homem, e apresentou o seu primeiro Doutorado em Teologia com uma tese sobre “A Doutrina da Fé segundo São João da Cruz”. Obteve o seu segundo Doutorado em Filosofia sobre o tema da ética baseado no fenomenólogo Max Scheler (1874-1928). 

Em 1958 foi nomeado Bispo Auxiliar de Cracóvia pelo Papa Pio XII, Dom Karol tornando-se assim o bispo mais jovem da Polônia, com apenas 38 anos.  Em 1964 foi nomeado pelo Papa São Paulo VI, como Arcebispo de Cracóvia (durante o Concílio Vaticano II). Foi nesta época (1965) que ele publicou o livro “Amor e Responsabilidade”.O Papa Paulo VI fez dele um cardeal em 1967.

Ele trouxe toda a sua experiência para o trabalho do Concílio Vaticano II (1962-1965), numa Igreja mais aberta ao mundo. Foi igualmente notável pelo seu talento para as línguas e a teologia.

No dia 16 de outubro de 1978, foi eleito Papa e recebeu o nome de João Paulo II (em homenagem aos dois Papas anteriores: João XXIII e Paulo VI). É o primeiro papa não-italiano desde 1520.

Alguns dias mais tarde, no dia 22 de outubro de 1978, pronunciou um discurso cuja mensagem de introdução permanecerá célebre: “Não tenhais medo! Antes, procurai abrir, melhor, escancarar as portas a Cristo! Ao Seu poder salvador abri os confins dos Estados, os sistemas econômicos assim como os políticos, os vastos campos de cultura, de civilização e de progresso! Não tenhais medo! Cristo sabe bem ‘o que é que está dentro do homem’. Somente Ele o sabe!” ².

Ao longo do seu pontificado, comunicou fortemente este apelo, visitando 129 países, encontrando-se com católicos, mas também com chefes de Estado e líderes de outras religiões.

O seu leitmotiv, o que aparece constantemente em sua vida e obra, era propor a fé e defender o Homem na sua dignidade, na sua liberdade, nos seus direitos humanos, políticos e espirituais. Ele opôs-se à ideologia comunista e encorajou a queda do bloco soviético na Europa do Leste. Também condenou os excessos do capitalismo, rejeitando “a primazia das coisas materiais sobre o Homem”.

No livro “Amor e Responsabilidade”, Karol Wojtyla (então Arcebispo de Cracóvia), desenvolve acima de tudo a sua visão filosófica do casamento e da sexualidade. É um trabalho profundo em consonância com os ensinamentos tradicionais da Igreja sobre: amor, moral sexual, casamento, ética sexual... a partir de uma visão filosófica, mas baseado nos ensinamentos dos Evangelhos.

Ele próprio descreve a forma como a redação deste livro surgiu em 1965:

“Estávamos no período pós-guerra, e a controvérsia com o marxismo no seu auge. Para mim, a prioridade tornou-se esses jovens que batiam à minha porta. Não vinham apenas com perguntas sobre a existência de Deus, porque me perguntavam sobretudo como deveriam viver, ou seja, como poderiam enfrentar os desafios do amor e do casamento, os problemas relacionados com a vida profissional. As questões colocadas por estes jovens no período que se seguiu à ocupação alemã ficaram incrustradas na minha memória; foram suas perguntas, suas dúvidas, que de certa forma me fizeram descobrir o caminho a seguir. Com base na experiência destes encontros e no meu interesse pelos problemas das suas vidas, redigi um estudo, cujo conteúdo sintetizei no título ‘Amor e Responsabilidade’.” ³

Em 1930, o Papa Pio XI publicou a Encíclica “Casti Connubii” sobre o casamento cristão. Posteriormente, em 1968, o Papa Paulo VI emitiu a Encíclica “Humanae Vitae”, apenas dez anos antes de Karol Wojtyla se tornar o sucessor de Pedro. O Papa João Paulo II encontrará apoio nestes dois documentos para desenvolver a sua exposição da moral sexual da espiritualidade conjugal e familiar, na corrente do pensamento personalista.

Já na década de 1950, Karol Wojtyla tinha produzido uma série de artigos publicados na revista polaca Tygodnik Powszechny, promovendo um novo discurso cristão positivo sobre o amor humano e a sexualidade.

Foi durante os primeiros anos do seu pontificado, entre 1979 e 1984, que o Papa João Paulo II dedicou as “Audiências Gerais” a “Teologia do Corpo”, seguindo as orientações do Concílio. É evidente que estas catequeses foram preparadas com base no livro “Amor e Responsabilidade”, segundo a firme convicção de que “o amor é, portanto, a fundamental e originária vocação do ser humano” ⁴.

Com a publicação de “Amor e Responsabilidade”, Karol Wojtyla provoca admiração da opinião pública: como pode um alto membro do clero pronunciar-se assim, num livro, dedicado ao amor humano e ao casamento! Não seria melhor deixar isso para aqueles e aquelas que o vivem?

O próprio Karol Wojtyla está ciente desta questão, escrevendo no seu livro: “Existe uma opinião comum de que sobre o tema do matrimônio e do amor entre um homem e uma mulher só se podem pronunciar as pessoas que o vivenciam” ⁵.

Mas o autor está profundamente convencido de que os padres, devido à sua função pastoral, se deparam a cada momento com estas questões de amor e casamento. Esta é precisamente a experiência que teve durante os seus anos de acompanhamento, como sacerdote, a jovens e casais na Polônia.

“Este foi o ponto de partida para este livro... apresenta o fruto de uma permanente confrontação entre doutrina e vida, que é a base do trabalho pastoral. No domínio da Moral Sexual, a doutrina, ou seja, o ensinamento da Igreja, baseia-se no Evangelho, que se expressa de uma forma muito concisa, mas adequada sobre este assunto.”

O futuro Papa está preocupado em fornecer aos fiéis bases filosóficas e teológicas sólidas, em matéria de moral sobre as relações conjugais e familiares. 

Se é necessário “fornecer as normas prontas, as regras do comportamento na esfera da moral sexual e matrimonial,” permanece constantemente a necessidade de “buscar a fundamentação apropriada destas mesmas normas.”

Karol Wojtyla está convencido de que é tarefa dos pastores (e não só dos médicos e terapeutas) apresentar esta fundamentação, não só para corrigir ou interditar, mas também para transmitir aos fiéis as verdades fundamentais do amor cristão. Especialmente, no que diz respeito às normas de ética sexual e às principais verdades morais, guiadas pelo mandamento do amor. 

“O amor é na realidade o bem próprio no mundo das pessoas. Por isso, a abordagem fundamental da moral sexual é a baseada ‘no amor e na responsabilidade’. Daí o título deste livro.”

“O livro tem caráter filosófico, pois a ética é (e só pode ser) uma parte da filosofia.”

O desafio fundamental do autor é apresentar o conceito de amor, e é por isso que todas as suas análises lhe são consagradas.

“No campo da ética cristã, cuja fonte é o Evangelho, existe um problema particular que poderia intitular-se: ‘introdução do amor ao amor’.”

“A palavra ‘amor’ significa em primeiro lugar aquilo que está contido na essência do maior mandamento; em segundo lugar tudo aquilo que a partir do impulso sexual que nasce entre a mulher e o homem.”

“Os manuais de ética e da teologia moral abordam estes dois amores um tanto separadamente. Falam no tratado sobre as virtudes teologais, porque o amor é a maior das virtudes. Do segundo, entretanto, falam no tratado sobre a virtude cardeal da temperança, com a qual, de fato, se relaciona a castidade. Tal separação pode produzir na mente humana um sentimento negativo pela irredutibilidade do amor humano ao amor divino (…) Neste livro, destacamos principalmente este segundo aspecto.” ¹⁰

Na sua introdução, o autor sublinha que a ordem das pessoas é o único verdadeiro ponto de partida para todas as considerações no campo do amor humano. O amor e a responsabilidade estão no centro da questão quando se trata de relações entre pessoas de sexos diferentes. 

“Por isso também a totalidade das considerações contidas neste livro tem a característica personalista.” ¹¹

O parágrafo seguinte apresenta um resumo introdutório sobre o assunto:

“É necessário sublinhar que o amor, que é a substância do mandamento evangélico, deve inspirar-se unicamente na norma personalista e nunca na norma utilitária. (…) Por causa da grande facilidade que há em confundir o campo sexual com o conceito de ‘amor’, e por ser este campo terreno de conflitos constantes entre duas valorizações e duas normas essencialmente diferentes, a personalista e a utilitária (…) Por isso, se desejamos encontrar soluções cristãs no campo da moral sexual, é na norma personalista que devemos procurá-las. É preciso que elas tenham o seu ponto de apoio no mandamento do amor.” ¹²

O tema principal é apresentado nesta primeira parte da nossa reflexão: “Passar do utilitarismo ao personalismo”. Este tema será importante para trabalhar, não só na área da moral sexual, mas também na área da vida vocacional, em vista das escolhas responsáveis que temos de fazer como atitudes de ação, conosco mesmos e com outras pessoas.

Todas as citações de Karol Wojtyla nesta meditação mensal são os escritos que correspondem ao primeiro capítulo do livro “Amor e Responsabilidade”.

A pessoa e a tendência sexual

Primeira análise da palavra gozar

O leitor puritano pode ficar surpreendido por encontrar este termo nas primeiras páginas de um tratado tão sério e importante. Mas ele pode descobrir o quanto esta ideia ajudará a formar uma base para a compreensão da problemática que ela sustenta. 

“O mundo em que vivemos compõe-se de um grande número de objetos. ‘Objetos’ aqui é sinônimo de ‘ser’(…) O sujeito é igualmente um ser que existe e atua de um modo ou de outro. (…) Seria bom precisamente falar de sujeitos antes de falar de objetos.” ¹³

“É preciso, pois, desde o princípio, ter bem em conta que qualquer sujeito é, ao mesmo tempo, um ser objetivo, é objetivamente qualquer coisa ou alguém. O homem é objetivamente ‘alguém’, e isto é o que o distingue dos outros seres do mundo visível, que, da sua parte, objetivamente, são sempre qualquer ‘coisa’” ¹⁴

O autor mostra quão grande é o abismo “entre o mundo das pessoas e o mundo das coisas”.

“Consideramos como coisa um ser não só sem razão, mas também sem vida; uma coisa é um objeto inanimado. Hesitaríamos em chamar coisa a um animal ou até a uma planta. Contudo, não se pode falar de pessoa animal diz-se pelo contrário ‘indivíduo animal’(...) Mas não basta definir o homem como indivíduo da espécie homo (nem sequer homo sapiens). O termo pessoa foi escolhido para sublinhar que o homem não se deixa encerrar na noção de indivíduo da espécie”, porque há nele alguma coisa mais, uma plenitude e uma perfeição de ser particulares, que não se podem exprimir senão empregando a palavra ‘pessoa’.” ¹⁵

O autor sublinha claramente a importância para a perspectiva cristã de nomear a pessoa humana, uma “pessoa” e não um “indivíduo”. O homem é um ser racional, que possui uma razão, cuja presença não pode ser constatada em nenhum outro ser visível, porque em nenhum deles encontramos um vestígio de pensamento conceitual.

“A pessoa, pelo fato de ser um indivíduo de natureza racional, isto é, um indivíduo em que a razão faz parte da natureza.” ¹

“Recorrendo a imagens, poderemos dizer que a pessoa, enquanto sujeito, se distingue dos animais, mesmo dos mais completos, pela sua interioridade, em que se concentra uma vida que lhe é própria, a sua vida interior.” ¹⁷

Esta definição da pessoa humana como uma natureza racional e espiritual é o ponto de partida e a base incontornável do pensamento de Karol Wojtyla. 

“No homem, porém, o conhecimento e o desejo assumem um caráter espiritual e contribuem assim para a formação de uma autêntica vida interior, fenômeno inexistente nos animais. A vida interior é a vida espiritual. Concentra-se ao redor do verdadeiro e do bom.” ¹⁸

“A pessoa é precisamente um ser objetivo que, enquanto sujeito definido, comunica-se estreitamente com o mundo (exterior) e se introduz nele radicalmente, graças à sua interioridade e à sua vida espiritual. É preciso acrescentar que ela assim se comunica não só com o mundo visível, mas também com o mundo invisível, e sobretudo com Deus. Este é outro sintoma da especificidade da pessoa no mundo visível.” ¹⁹

Consequentemente, a comunicação da pessoa com o mundo objetivo e com a realidade que a rodeia não é apenas de ordem física, nem apenas de ordem sensitiva, como nos animais. Mas a pessoa humana comunica com outros seres através da sua interioridade.

“A ligação da pessoa humana com o mundo tem início no plano físico e sensorial, mas é na esfera da vida interior que essa ligação assume aquela forma que é peculiar somente ao homem.” ²

“Da sua natureza faz parte a faculdade de autodeterminação fundada na reflexão, faculdade que se manifesta no fato de que o homem, escolhe o que quer fazer. Esta faculdade chama-se livre arbítrio. Pelo fato de ser dotado, enquanto pessoa, do livre arbítrio, o homem é também senhor de si mesmo.” ²¹

“Ninguém pode querer em meu lugar. Ninguém pode substituir o meu ato voluntário pelo seu.” ²²

Esta função fundamental de autonomia do livre arbítrio, com a qual cada pessoa é dotada, permite a liberdade pessoal de não querer necessariamente o que outra pessoa quer que eu queira. 

“Toda a coexistência humana se funda neste princípio; a educação e a cultura reduzem-se a este princípio.” ²³

“Por isso é necessário examinar, embora brevemente, quem é aquele que atua, ou seja, o sujeito da ação, e quem é aquele para o qual a atividade e dirigida, ou seja, o objeto da ação. Sabemos já que ambos, tanto o sujeito como o objeto, são pessoas.” ²⁴

Será que temos o direito de tratar a pessoa como “um meio” e “usá-la” como tal?

“Gozar significa usar ou, em outras palavras, servir-se de um objeto de ação como meio para atingir o fim para o qual tende o sujeito que atua.” ²⁵

“O homem, nas suas atividades, serve-se do mundo criado, desfruta de suas riquezas para atingir fins que se aponta a si mesmo, porque só ele está em condições de compreendê-los. Considera-se justa esta atitude do homem para com o mundo inanimado(…) Só se exige que a pessoa humana racional não destrua nem desperdice as riquezas naturais e as use com tal moderação.” ²⁶

Neste capítulo, o autor deixa claro que quando se trata da sua atitude para com os animais, dotados de sensibilidade e capazes de sofrer, exigimos ao homem que não os prejudique nem torture. Também é necessário que ele não freie o desenvolvimento pessoal do homem e garanta a coexistência justa e pacífica das sociedades humanas.

“Todos estes princípios são simples e fáceis de compreender por todo e qualquer homem normal. O problema começa quando se trata de aplicá-los às relações inter-humanas. Temos o direito de tratar a pessoa como um meio e de utilizá-la como tal?” ²⁷

O autor reconhece que o problema é muito vasto e se estende a muitas áreas da vida e das relações humanas. Por exemplo, um empregador não “se serve” de um trabalhador, ou seja, uma pessoa, para atingir os seus objetivos? Um chefe militar não “se serve” dos soldados para atingir certos objetivos, os quais ele é muitas vezes o único que conhece? Os pais não tratam os seus filhos, até certo ponto, “como meios”, uma vez que as crianças nem sempre compreendem os seus fins?

“Nas relações sexuais, a mulher não é por acaso um meio de que o homem se serve para atingir os seus fins, os fins procurados na vida sexual? Do mesmo modo, para a mulher, o homem não é porventura um meio que lhe permite atingir os seus?” ²⁸

“Na sua interioridade descobrimos o seu duplo caráter de sujeito capaz simultaneamente de pensar e de autodeterminar-se. Toda pessoa é, pois, por natureza, capaz de definir os próprios fins. Tratando-a unicamente como um meio, atenta-se contra a sua própria essência, contra o que constitui o seu direito natural. (…) Este é o significado da educação, e em geral da educação recíproca dos homens.(...) Mas nesta atividade educadora, sobretudo quando se trata de crianças, nunca é permitido tratar a pessoa como um meio. Este princípio tem um alcance absolutamente universal. Ninguém tem o direito de servir-se de uma pessoa, de usá-la como um meio; nem sequer Deus, seu criador.” ²⁹

É com base neste princípio - salienta o autor - que se baseia a mais profunda lógica da Revelação: “Deus permite ao homem conhecer o fim sobrenatural, mas deixa à sua liberdade a decisão de tender para ele, de escolhê-lo. Por isso Deus não salva o homem, que tem o uso da liberdade, contra a sua livre vontade.” ³⁰

Karol Wojtyla recorda aqui o princípio elementar do imperativo moral formulado por Immanuel Kant no final do século XVIII: “Age de tal modo que nunca trates outra pessoa simplesmente como um meio, mas sempre também como o fim da tua ação.” ³¹

Este princípio personalista determina que: “Cada vez que, na tua conduta, uma pessoa é objeto da tua ação, não esqueças que não deves tratá-la somente como um meio, como um instrumento, mas tem em conta que também ela tem, ou ao menos deveria ter, o seu próprio fim” ³².

Este princípio está na base de toda a liberdade, bem compreendida e, especialmente, da liberdade de consciência. Nesta primeira parte, podemos, portanto, encontrar uma primeira interpretação da palavra “gozar” no seu significado de consideração por cada pessoa implicada e amada.

Amar é o oposto de usar

Amar os outros? Ou utilizá-los? 

“Todas as nossas considerações anteriores a propósito do primeiro significado da palavra ‘gozar’ somente nos ofereceram uma solução negativa do problema da atitude para com a pessoa: não se pode usar dela, porque a função de instrumento cego, ou de meio que sirva para fins que outro sujeito se propõe atingir, é contrário à sua natureza.” ³³

O autor vê apenas o amor como único bem comum que pode uni-los e dar-lhes o mesmo objetivo que eles escolheram juntos. 

“Esta escolha consciente, feita em comum por pessoas distintas, torna-as iguais entre si, e por isso mesmo exclui que uma delas tente sujeitar a outra.” ³⁴

“Só as pessoas participam do amor. Contudo, elas não o encontram em si pronto e acabado. Inicialmente é um princípio, ou uma ideia, à qual os homens se devem conformar para libertar a sua conduta de todo caráter utilitário, ‘consumidor’ das outras pessoas.” ³⁵

O autor explica que se o empregador e o empregado estabelecerem a sua relação de modo a tornar visível nela o bem comum que ambos servem, então o perigo de tratar a pessoa de uma forma incompatível com a sua natureza diminuirá e tenderá a desaparecer.”Porque o amor eliminará neles, pouco a pouco, a atitude puramente utilitarista, ‘consumidora’ em relação à pessoa.” ³⁶

“Transfiramos o que foi dito para o plano da relação homem-mulher, que constitui a trama da moral sexual. Também aqui, e sobretudo aqui, só o amor pode excluir a utilização de uma pessoa por parte de outra. O amor, como foi dito, é condicionado pela relação comum das pessoas com um mesmo bem, que elas escolhem e ao qual ambas se subordinam. O matrimônio é o campo em que melhor se aplica este princípio, porque no matrimônio duas pessoas, o homem e a mulher, unem-se de tal modo que se tornam um só corpo, segundo a expressão do Livro do Gênesis, um só sujeito da vida sexual.” ³⁷

O autor pergunta: como podemos impedir que um deles se torne para o outro, a mulher para o homem, o homem para a mulher, “um objeto” a ser usado para os seus próprios fins? 

“No matrimônio este fim será a procriação, a descendência, a família, e ao mesmo tempo a crescente maturidade nas relações de duas pessoas em todos os planos da comunidade conjugal. Todos estes fins objetivos do matrimônio abrem, o caminho ao amor, e também excluem, em princípio, o que elimina a possibilidade de tratar a pessoa como um meio e como um objeto.” ³⁸

Mas para poder realizar o amor de acordo com estes objetivos, é necessário meditar detalhadamente sobre o próprio princípio que elimina a possibilidade de considerar uma pessoa como um objeto. Especialmente no campo sexual.

“Parece certo que o campo sexual é um dos que mais oferecem ocasiões para que as pessoas, mesmo inconscientemente, se sirvam de outras como objeto.” ³⁹

Karol Wojtyla salienta que os problemas da moral sexual ultrapassam amplamente os da moral conjugal e se estendem a muitas questões da vida comum e mesmo da coexistência de homens e mulheres. 

“Ora, nesta vida, da coexistência, todos devem incessantemente pretender, com consciência e responsabilidade, o bem fundamental de cada um e de todos que é a realização da ‘humanidade’, ou seja, do valor da pessoa humana.” ⁴⁰

O segundo significado da palavra gozar

O autor analisa agora o que determina a estrutura objetiva da ação humana, acompanhada de vários estados emocionais e afetivos. Estes precedem a ação, acompanham-na ou manifestam-se até à consciência do homem como resultado da ação. 

Chamamos a atenção - diz o autor - para a seguinte questão: “Os momentos e estados emocionais – afetivos, tão significativos a respeito de toda a vida interior do homem, são matizados, a maioria das vezes positiva ou negativamente, como se possuíssem uma carga interior positiva ou negativa.” ⁴¹

Consoante o carácter da experiência emocional a que se refere: “A carga positiva é o prazer; a carga negativa, a dor”. ⁴²

“Conforme o caráter da experiência emocional afetiva à qual se liga, o prazer assume formas ou matizes diversos e torna-se saciedade sensual, ou satisfação afetiva, ou grande ou profundo deleite. O sofrimento depende, por sua vez, do caráter da emoção afetiva que o provocou, e se manifesta sob diversas formas, graus ou matizes, como , por exemplo a contrariedade sensual, a insatisfação afetiva ou, enfim, uma profunda tristeza.” ⁴³

Este é sempre o caso - o autor acrescenta - das relações sexuais entre o homem e a mulher. Aqui ele analisa a dimensão subjetiva da pessoa humana, na sua forma de sentir e perceber o que vive. 

“’Gozar’ quer dizer então ‘encontrar prazer’, esse prazer que sob diversas formas está ligado à ação e ao seu objeto. Ora, nas relações entre o homem e a mulher e nas suas relações sexuais, o objeto é sempre uma pessoa. É ela que se torna a fonte essencial do prazer multiforme e da voluptuosidade.” ⁴⁴

“É fácil compreender que uma pessoa possa ser para outra uma fonte de sensações com carga emocional afetiva particular, dado que, entre seres humanos, um deve ser para o outro um objeto igual de ação, um ‘co-participante’. (…) Contudo, não se deve supor que aqui entre em jogo exclusivamente um prazer sensual. Tal suposição equivaleria a subestimar o valor natural de relações que conservam sempre o seu caráter humano, o caráter de relações entre duas pessoas.” ⁴⁵

O prazer sexual da pessoa humana é mais elevado e não tem nada a ver com o da vida animal.

“Contudo, nos animais a vida sexual situa-se ao nível da natureza e do instinto a ela ligado, ao passo que nos homens se situa ao nível da pessoa e da moral.” ⁴⁶

“A moral sexual resulta do fato de que as pessoas têm consciência, não só da finalidade da vida sexual, mas também de serem pessoas.” ⁴⁷

O autor afirma que graças à razão, de fato, “o homem pode não somente distinguir entre o prazer e a dor, mas também, em certo sentido, separá-los e tratá-los como fins distintos da sua ação. Os seus atos colocam-se então exclusivamente na perspectiva do prazer que se quer experimentar ou do sofrimento que se quer evitar.” ⁴⁸

Por outro lado, estes atos não ocorrem na vida sexual dos animais, que é naturalmente instintiva e visa apenas o seu fim: a procriação e a conservação da espécie

“É claro que o prazer sexual – somente o animal, evidentemente – não pode constituir um fim à parte. Muito diferente é o caso do homem.” ⁴⁹

A moral cristã não é utilitarista mas sim personalista

O autor sublinha como a personalidade e a inteligência dão origem à moral e, em particular, à moral sexual. Esta última é objetiva e subjetivamente personalista, porque o que entra em jogo é a atitude adequada em relação à pessoa, no contexto do prazer. 

“Uma pessoa (do sexo oposto) não pode representar para outra somente um meio que sirva para alcançar o fim do prazer sexual. A convicção de que o homem é uma pessoa nos força a aceitar a subordinação do prazer ao amor.” ⁵⁰

“Com efeito, o prazer é, por sua natureza, subjetivo: somente graças ao amor pode ser interiormente ordenado e elevado ao nível da pessoa. O amor exclui também o ‘gozo’ no segundo significado da palavra.” ⁵¹

Para melhor aprofundar esta questão de um ponto de vista ético, o autor deve fazer uma crítica ao utilitarismo.

Crítica ao utilitarismo

(e às suas variantes: individualismo, subjetivismo, egoísmo, hedonismo, etc.)

Esta tendência “utilitarista” não diminuiu, certamente, nos últimos cinquenta anos, desde que Karol Wojtyla escreveu este livro. O futuro Papa denunciou esta tendência, mesmo antes da revolução sexual que ocorreu a partir de 1968.

Recordemos que em abril de 2019, o Papa Emérito Bento XVI, no seu artigo da revista do clero alemão “Klerusblatt”, relacionou os crimes de pedofilia do clero com o contexto da liberalização sexual nascida da “Revolução de 1968”.

Para Karol Wojtyla, trata-se de analisar o utilitarismo como uma concepção teórica da moral e como um programa de conduta prática. Pois, segundo o autor, o utilitarismo é um dos traços característicos do espírito do homem contemporâneo (também em outros tempos) e da sua atitude perante a vida. 

“O seu nome provém do verbo latino uti (‘utilizar’, ‘tirar proveito de’) e do adjetivo utilis (‘útil’).” ⁵²

“Ora, tudo o que dá prazer e exclui o sofrimento é útil, porque o prazer é o fator essencial da felicidade humana. Ser feliz, segundo os princípios do utilitarismo, significa levar uma vida agradável. Sabemos que o prazer pode tomar formas diversas, que no prazer há matizes. Contudo, isso pouco importa, embora a este propósito se possa observar que alguns prazeres, como os espirituais, são considerados mais elevados, e outros, como por exemplo os prazeres sensuais, carnais, materiais, são considerados inferiores.” ⁵³

“Para um utilitarista, é só o prazer como tal que conta.(...) O homem é um sujeito dotado da faculdade de pensar e da sensibilidade. Esta o leva a desejar o prazer e rejeitar o sofrimento. A faculdade de pensar, isto é, a razão, foi-lhe dada para poder dirigir a sua ação de modo a assegurar-se o máximo possível de prazer e o mínimo de sofrimento.” ⁵⁴

O utilitarista considera este princípio como a primeira norma da moral humana, acrescentando que deve ser aplicada não só individualmente, egoisticamente, mas também no grupo, e na sociedade humana. 

A fim de aprofundar este tema, é bom recordar brevemente as distinções feitas por Santo Tomás de Aquino sobre os três tipos de “bem” ⁵⁵:

Os “bens úteis” (bonum utile). Estes bens são apenas “modestas ajudas para a prática da virtude”. É útil o que não é desejado, amado ou procurado por si mesmo.

Os “bens agradáveis” (bonum delectabile). Estes bens não são procurados pelo seu próprio bem, mas pelo prazer ou satisfação que proporcionam (certos prazeres sensíveis).

Os “bens honestos” (bonum honestum). Um bem é honesto quando é procurado, desejado e amado por si mesmo. Estimado pela razão. O juízo moral reconhece-o como uma verdadeira perfeição para o homem. 

Segundo Santo Tomás é este último o “bem honesto”, o que melhor corresponde à excelência da razão moral humana.

A busca do prazer: finalidade essencial e principal da vida (egoísta)  

Para muitas pessoas, o reconhecimento do prazer é o único e maior bem ao qual todo o comportamento individual e social do homem deve estar subordinado. Mas não será o prazer, na sua essência, meramente acessório e relativo - que pode eventualmente surgir - mas não um fim a ser procurado em si mesmo?

Por conseguinte, diz Karol Wojtyla: “Organizar a ação tendo em vista somente o prazer é contrário à estrutura dos atos humanos” ⁵⁶.

“Mas não posso considerar este prazer (oposto ao sofrimento) como à única norma da minha ação, como o critério do meu juízo sobre a bondade ou sobre a malícia dos meus atos ou dos de outra pessoa.” ⁵⁷

Enquanto, o que é realmente bom e o que me ordena em consciência à moral, está muitas vezes relacionado precisamente a uma certa dor e exige muitas vezes a renúncia a um prazer.

O autor adverte para o perigo destes princípios utilitaristas, tanto para si próprio como para os outros, nos seguintes pontos: 

a) “Se admito os princípios do utilitarismo, considero-me necessariamente a mim mesmo como um sujeito que quer experimentar, no plano emotivo e afetivo, o maior número possível de sensações e de experiências positivas, e como um objeto que pode servir para provocá-las. E inevitavelmente considero do mesmo modo qualquer outra pessoa, que se torna assim para mim um meio apto a fazer-me atingir o máximo de prazer.” ⁵⁸

b) “Com efeito, os princípios utilitaristas são perigosos porque não se vê como estabelecer, a partir deles, as relações e a coexistência das pessoas de sexo diferente no plano do verdadeiro amor, nem como libertá-las, graças a ele, tanto da atitude do prazer (nos dois significados da palavra) como do perigo de considerar a pessoa como um meio.” ⁵⁹

O utilitarismo parece ser assim: “um programa de um egoísmo coerente, do qual não se pode  passar a um autêntico altruísmo” ⁶⁰.

c) “Com efeito, o princípio do máximo de prazer (de ‘felicidade’) para a maior quantidade possível de pessoas implica uma profunda contradição interna. O prazer, por sua própria essência, não é senão um bem atual e refere-se somente a um determinado sujeito, não é um bem transobjetivo. Enquanto este bem for considerado a única base da norma moral, não se pode esperar ir além dos limites do que é bom só para mim.” ⁶¹

d) “Se, admitindo o princípio de que o prazer, é o único bem, eu me preocupo com o máximo de prazer também para outra pessoa — e não só para mim mesmo, o que teria um egoísmo indiscutível — mesmo neste caso aprecio o prazer do outro, só através do meu pessoal, isto é, porque me agrada ver, outro experimentá-lo. Mas, se isso cessa de dar-me prazer ou se já não é o resultado do meu ‘cálculo da felicidade’ (termo muitas vezes usado pelos utilitaristas), já não me sinto ligado pelo prazer alheio, que para mim já não representa um bem e pode até tornar-se um mal.” ⁶²

“Seguindo os princípios do utilitarismo, e tenderia então a eliminar o prazer alheio, porque a ele não está vinculado nenhum prazer para mim, ou, quando muito, ele se me tornará indiferente e já não me preocupará. É, pois, evidente que, partindo dos princípios utilitaristas, a atitude subjetiva de interpretar o bem (ou seja, o prazer) leva diretamente, talvez até inconscientemente, ao egoísmo.” ⁶³

e) “O único modo de sair deste inevitável egoísmo é reconhecer, fora do bem puramente subjetivo, isto é, fora do prazer, o bem objetivo, que também tem condições para unir as pessoas, assumindo então o caráter do bem comum. Este é o verdadeiro fundamento do amor, e as pessoas que o escolhem em comum, a ele se sujeitam ao mesmo tempo. Graças à ele, elas se ligam uma à outra por um autêntico e objetivo laço de amor, que lhes permite libertarem-se do subjetivismo e do inevitável egoísmo que daí deriva.” ⁶⁴

“Porque, como vimos, por sua própria essência o egoísmo é caminho sem saída.  É possível harmonizar diversos egoísmos? Por exemplo, no campo sexual, harmonizar o da mulher com o do homem? Sem dúvida isso é possível, em virtude do princípio ‘o máximo de prazer para cada uma das duas pessoas’, mas a aplicação deste princípio nunca conseguirá fazer-nos sair do círculo dos egoísmos. Estes continuarão a ser nesta harmonia o que eram antes, salvo se o egoísmo masculino e o egoísmo feminino se tornarem úteis e vantajosos um ao outro.” ⁶⁵

O utilitarismo egoísta desilude sempre no final, porque nunca chega ao amor. O amor é comunhão de pessoas 

“Mas, no momento em que a vantagem comum e a utilidade comum cessarem, já nada resta dessa harmonia. (…) Assim concebido, o ‘amor’ é uma fusão de egoísmos combinados de modo a não resultarem desagradáveis um ao outro, contrários ao prazer comum.” ⁶⁶

“A conclusão inevitável de semelhante concepção é que o amor não é senão uma aparência que se deve guardar cuidadosamente para não revelar o que realmente se esconde dentro dela: o egoísmo mais ávido, o que leva à exploração do outro para si mesmo, para o seu ‘máximo de prazer’ próprio. E a pessoa então é e permanece sendo um meio,(…) o utilitarismo introduz esta relação paradoxal: cada uma das duas pessoas busca defender o seu próprio egoísmo, e ao mesmo tempo aceita servir ao egoísmo do outro, desde que lhe seja assim oferecida a ocasião de satisfazer o próprio; só o aceita com esta condição.” ⁶⁷

“A estrutura paradoxal de semelhantes relações, que não só é plausível mas efetivamente inevitável quando se aceitam o espírito e a atitude utilitarista, é a prova de que a pessoa (não só a outra mas também a minha) se rebaixa verdadeiramente à condição de meio, de instrumento. É uma necessidade dolorosa e logicamente inevitável, uma espécie de antítese do mandamento do amor: ‘É necessário que eu me considere a mim mesmo como instrumento e meio, já que assim considero o outro’.” ⁶⁸

Infelizmente, podemos ver hoje muitas vezes essa mentalidade consumista, centrada no interesse próprio, ávida de prazeres e em constante busca de bens úteis e agradáveis. E, mesmo paradoxalmente, quando se trata de procurar a forma de viver uma vida vocacional.

Deste modo, o futuro Papa João Paulo II, nesta primeira parte do seu livro, alertou-nos para a nossa concepção cristã da moral sexual num ponto essencial: a busca do amor e do bem na pessoa amada. O desejo do amor esponsal e do bem comum, purificado de todas as formas de egoísmo, é certamente o caminho a percorrer, com a ajuda da graça de Deus e com uma certa gradualidade.

Referências Bibliográficas

  1. Karol Wojtyla, Amor e Responsabilidade, Introdução à edição francesa.

  2. Papa João Paulo II, Homilia no início do seu pontificado, 22 outubro 1978.

  3. Karol Wojtyla, Amor e Responsabilidade, Introdução à edição francesa.

  4. Papa João Paulo II, Exortação Apostólica Familiaris Consortio, 22 de novembro de 1981, n.11.

  5. Karol Wojtyla, Amor e Responsabilidade, Introdução à edição francesa.

  6. Ibidem

  7. Ibidem

  8. Ibidem

  9. Ibidem

  10. Ibidem

  11. Ibidem

  12. Ibidem, Edição Cultor de Livros, São Paulo, 2016, cap. I, p. 37.

  13. Ibidem, cap. I, p. 15.

  14. Ibidem

  15. Ibidem, cap. I, p. 15-16.

  16. Ibidem, cap. I, p. 16.

  17. Ibidem

  18. Ibidem, cap. I, p. 16 e 17.

  19. Ibidem

  20. Ibidem, cap. I, p. 17.

  21. Ibidem, cap. I, p. 18.

  22. Ibidem

  23. Ibidem

  24. Ibidem

  25. Ibidem, cap. I, p. 19.

  26. Ibidem, cap. I, p. 19-20.

  27. Ibidem, cap. I, p. 20.

  28. Ibidem, cap. I, p. 20-21.

  29. Ibidem, cap. I, p. 21.

  30. Ibidem, cap. I, p. 21-22.

  31. Ibidem, p. 22.

  32. Ibidem

  33. Ibidem

  34. Ibidem, p. 23.

  35. Ibidem

  36. Ibidem, p. 24.

  37. Ibidem

  38. Ibidem, p. 24-25.

  39. Ibidem, p. 25.

  40. Ibidem

  41. Ibidem, p. 26.

  42. Ibidem

  43. Ibidem

  44. Ibidem

  45. Ibidem, p. 27.

  46. Ibidem, p. 28.

  47. Ibidem

  48. Ibidem

  49. Ibidem

  50. Ibidem

  51. Ibidem

  52. Ibidem, p. 29

  53. Ibidem

  54. Ibidem

  55. Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, Contra os Gentios, I, LXXII. 

  56. Karol Wojtyla, Amor e Responsabilidade, cap. I, p. 30.

  57. Ibidem

  58. Ibidem, p. 31.

  59. Ibidem

  60. Ibidem

  61. Ibidem, p.31-32.

  62. Ibidem, p.32.

  63. Ibidem

  64. Ibidem

  65. Ibidem, p.32-33.

  66. Ibidem, p.33.

  67. Ibidem

  68. Ibidem