O “sensus ecclesiae” e o “sensus dei” dos humildes e dos pobres | Palavra do fundador - Novembro 2023

 

Na Festa de Todos os Santos, que acontece neste mês de novembro, a Igreja celebra com ação de graças a memória dos grandes santos canonizados e beatificados em seu seio, e também a multidão de santos escondidos e esquecidos que só Deus conhece em Seu amor e benevolência. Eles nos conduzem pelo caminho de humildade, de santidade em vista do Amor. De acordo com a bela exortação da Carta aos Hebreus:

Portanto, também nós, com tal nuvem de testemunhas ao nosso redor, rejeitando todo fardo e o pecado que nos envolve, corramos com perseverança para o certame que nos é proposto.” (Hb 12, 1)

Em Roma, no dia 15 de maio de 2022, o Papa Francisco canonizou São Charles de Foucauld (1858- 1916), um santo na linha dos pobres e humildes, na linha do futuro da Igreja e da nova evangelização. Sua vida é uma impressionante história de conversão, abnegação e humildade voluntária. Imitar Cristo nas coisas mais simples e mais concretas da vida: esta será a “via de Charles”, sua própria “pequena via, feita de simplicidade, de bondade e de fraternidade, uma via que, além de Teresa de Lisieux, iluminará o século XX e ainda hoje brilha com todo seu esplendor

O “sensus ecclesiae” ou o “nós eclesial” que preserva dos excessos que ameaçam a comunidade

O Saltério é certamente o livro de orações dos pobres, dos humildes, dos anawim. Nele encontramos um salmo da via da infância, o mais curto de todos os salmos:

Senhor, meu coração não se eleva, nem meus olhos se alteiam; não ando atrás de grandezas, nem de maravilhas que me ultrapassam. Não! Fiz calar e repousar meus desejos, como criança desmamada no colo de sua mãe, como criança desmamada estão em mim meus desejos. Israel, põe tua esperança no Senhor, desde agora e para sempre.” (Sl 131(130)

No mesmo espírito da sabedoria de Israel, este versículo de Provérbios marcou particularmente Santa Teresa do Menino Jesus: “Se alguém é pequenino, que venha a mim” (cf. Pr 9, 4).

Na linha desta opção preferencial pela via dos humildes e pequenos, o Papa Francisco declara que “a evangelização e o Sensus Ecclesiae são elementos determinantes de nosso DNA eclesial” 2.

Portanto, não percamos nenhum dos dois. O sentido eclesial nos permite reacender, através do impulso e da força do Espírito Santo, o primeiro Amor entre nós, em fraternidade e comunidade. O verdadeiro sentido eclesial permite que todas as vozes, especialmente as menores vozes e as mais humildes, tenham um lugar, uma visibilidade e se sintam “úteis” no corpo fraterno e comunitário.

Acautelai-vos, para não perderdes o fruto de nossos trabalhos, mas, ao contrário, receber plena recompensa. Todo aquele que avança e não permanece na doutrina de Cristo não possui a Deus. Quem permanece na doutrina é que possui o Pai e o Filho.” (2Jo 8-9)

São João, em sua segunda Carta, adverte de não se deixar seduzir nem doutrinar por aqueles que pretendem ir “mais longe” do que os outros e, em especial, por aqueles que vão além do “nós eclesial”, capaz de preservar a comunidade dos excessos que a ameaçam 3.

Nunca é por instinto de superioridade e pensando ser mais inspirado do que todos os outros que a comunidade avançará, mas pela “unção do Santo” que se derrama sobre todo o corpo eclesial, porque “cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos” (1Cor 12, 7). E é o Espírito Santo que “distribui a cada um seus dons, conforme lhe apraz” (cf. 1Cor 12, 11).

Como o Papa Francisco deixou claro em 2019 para a Igreja na Alemanha:

O Sensus Ecclesiae nos liberta de particularismos e tendências ideológicas para nos permitir saborear esta certeza do Concílio Vaticano II, afirmando que a unção do Santo (1Jo 2, 20 e 27) pertence à totalidade dos fiéis. A comunhão com o povo santo e fiel de Deus, os portadores da unção, mantém viva a esperança e a certeza de saber que o Senhor caminha ao nosso lado e Ele sustenta nossos passos.” 4

Quantas vezes o Papa cita esta expressão tão cara ao seu coração: “O todo é mais do que a parte, sendo também mais do que a simples soma delas” 5.

Assim, é num olhar mais amplo e abrangente que podemos reconhecer um bem maior, e este bem será benéfico para todos, sem nos levar à fuga nem mesmo a nos desenraizarmos.

Trabalha-se no pequeno, no que está próximo, mas com uma perspetiva mais ampla.” 6

Sem este sentido eclesial, há um grande risco de não percebermos nem sentirmos o que o Papa Francisco chama de maneira sutil e realista a: “santidade dispersa que vive no paciente povo de Deus”. E o Papa acrescenta: “Muitas vezes eu percebo a santidade do ‘nosso vizinho’, daqueles que vivem perto de nós e refletem a presença de Deus. É a santidade que sempre protege e regula a Igreja de qualquer redução ideológica, científica ou manipuladora” 7.

Às vezes, certos desafios e decisões importantes a serem tomadas exigem que peçamos ao Senhor Sua graça, através da oração e do jejum. Neste sentido, o Papa continua: “Sempre me impressionou ver como, no decorrer da vida, especialmente no caso de grandes decisões, o Senhor foi particularmente tentado. A oração e o jejum ocuparam um lugar especial como fator determinante em todas as ações posteriores (cf. Mt 4, 1-11)” 8.

O sensus fidei dos humildes e dos pobres (ou a conversão da inteligência)

Jesus exultou de alegria sob a ação do Espírito Santo e disse: ‘Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado’.” (Lc 10, 21)

O que é este “mistério” que o Pai escondeu? “[...]o grande mistério do Filho, o mistério trinitário, o mistério cristológico, diante dos sábios, dos doutos eles não o conheceram – mas revelou-o aos pequeninos, aos népioi (em grego), àqueles que não são doutos, que não têm uma grande cultura. A eles foi revelado este grande mistério.” 9

A dimensão do conhecimento, assim como a informação, não é sufi ciente para entrar no mistério trinitário. Pode-se, de fato, ser teólogo e ter competências especializadas, porém, como aponta o Papa Bento XVI:

Quando os Magos do Oriente perguntam aos competentes, aos escribas, aos exegetas, o lugar do nascimento do Salvador, do Rei de Israel, os escribas sabem-no, porque são grandes especialistas; podem dizer imediatamente onde nasce o Messias: em Belém! Mas não se sentem convidados a ir: para eles é um conhecimento acadêmico, que não diz respeito à sua vida; eles permanecem fora. Podem dar informações, mas a informação não se torna formação da própria vida.” 10

É um mistério impressionante, de fato. Às vezes, nos faz refletir: “Como é, Senhor, que você me chamou para Seu serviço quando você poderia ter encontrado uma qualidade mil vezes melhor em tal coisa e tal coisa, eu sei! Eu poderia até mesmo, Senhor, dar-lhe conselhos nesta área! Em todo caso, no que me diz respeito, acredito que você realmente deve ter cometido um erro!” Este tipo de cálculo e julgamento, mesmo que seja voltado para si mesmo e que tenha aparência de humildade, não é uma atitude de orgulho farisaico que julga a Deus, aos outros e a si mesmo?

Como explica o Papa Bento XVI:

Existem grandes doutos, grandes especialistas, grandes teólogos, mestres da fé, que nos ensinaram muitas coisas. Penetraram nos pormenores da Sagrada Escritura, da história da salvação, mas não puderam ver o próprio mistério, o verdadeiro núcleo: que Jesus era realmente Filho de Deus, que Deus trinitário entra na nossa história, num determinado momento histórico, num homem como nós. O essencial permaneceu escondido!” 11

Ainda assim, durante este tempo, também em nossa época, os pequenos e humildes foram capazes de conhecer este mistério. O Papa cita Santa Bernadette Soubirous, Santa Josefi na Bakhita, Santa Teresa de Calcutá, São Damião de Veuster. Mas por que isto é assim? O Papa Bento XVI pergunta (sabendo a resposta): “É o cristianismo a religião dos néscios, das pessoas sem cultura, não formadas? Apaga-se a fé onde se desperta a razão?” 12.

Mas, diz o Papa Bento XVI:

E todavia, existe uma ‘espécie’ de pequeninos que são inclusive doutos. Aos pés da cruz encontra-se Nossa Senhora, a humilde serva de Deus, a grande mulher iluminada por Deus. E encontra-se também João, pescador do lago da Galileia, mas é aquele João que será justamente chamado pela Igreja ‘o teólogo’, porque realmente soube ver o mistério de Deus e anunciá-lo: com olhos de águia, entrou na luz inacessível do mistério divino.” 13

É na vida do Apóstolo Paulo que devemos buscar a resposta. “Ele mesmo, na primeira Carta a Timóteo, define-se ‘ignorante’ naquela época.” 14 “Porque agi por ignorância na incredulidade” (1Tm 1,13). “[...] apesar de toda a sua ciência de rabino. Mas o Ressuscitado o derruba: ele torna-se cego e, ao mesmo tempo, realmente vidente, começa a ver. O grande douto torna-se um pequenino, e precisamente por isso vê a loucura de Deus que é sabedoria, sapiência maior do que todas as sabedorias humanas. [...] Sobressai – continua o Papa Bento XVI – o fato de que existe um uso dúplice da razão e uma maneira dupla de ser sábio ou pequenino.

a) Há um modo de utilizar a razão que é autônomo, que se põe acima de Deus, em toda a gama das ciências, a começar pelas naturais, onde é universalizado um método adequado para a pesquisa da matéria: Deus não faz parte deste método, portanto Deus não existe. E assim, finalmente, também na teologia [...] Assim o grande mistério de Jesus, do Filho que se fez homem, reduz-se a um Jesus histórico: uma fi gura trágica, um fantasma sem carne nem ossos, um homem que permaneceu no sepulcro, que se corrompeu e é realmente um morto. [...] O homem que, na sua pretensão, se faz ele mesmo a medida: possui esta soberba [...] torna absolutos certos métodos que são inadequados às realidades [...] permaneço fechado na minha existência, que não é tocada. É a especialização que vê todos os detalhes, mas já não vê a totalidade.

b) E existe o outro modo de utilizar a razão, - destaca o Papa - de ser sábio, a do homem que reconhece quem ele é; reconhece a própria medida e a grandeza de Deus, abrindo-se na humildade à novidade da ação de Deus. Assim, precisamente aceitando a sua pequenez, fazendo-se pequenino como realmente é, chega à verdade. Desta maneira, também a razão pode expressar todas as suas possibilidades, não é anulada mas amplia-se, torna- se maior. Trata-se de outra sofia e sínesis, que não exclui do mistério, mas é precisamente comunhão com o Senhor, em quem repousam a sapiência e a sabedoria, e a sua verdade.” 15

O que é o sensus fi dei do povo de Deus?

Ao longo da história da Igreja, quando foi necessário definir verdades dogmáticas, os Papas quiseram consultar os bispos para conhecer a fé de toda a Igreja; e assim recorreram à autoridade do sensus fi dei de todo o povo de Deus, que é “infalívelin credendo’ (= ‘crendo’)” 16.

O último Concílio enfatizou que em virtude da unção do Espírito Santo recebida no Batismo, o conjunto dos fiéis “não pode errar na fé”; este dom particular que eles possuem se manifesta através do sentido sobrenatural da fé que pertence a todo o Povo quando “desde os bispos até o último dos fi éis leigos, manifesta o consentimento universal às verdades relativas à fé e à moral” 17.

É (entre outras coisas) esta realidade conhecida da Tradição que o Papa Francisco quer aprimorar na pedagogia deste processo sinodal.

Esta Tradição Apostólica progride na Igreja, porque todo o Povo Santo de Deus cresce na compreensão e na experiência tanto das coisas como das palavras transmitidas, quer graças à contemplação e ao estudo dos fiéis que o meditam no seu coração (Lc 2, 19 e 51), quer graças a íntima inteligência que experimentam das coisas espirituais, quer graças à pregação daqueles que, com a sucessão do episcopado, receberam o carisma da verdade (cf. Lc 2, 19 e 51).” 18

No entanto, devemos estar conscientes de que este não se trata de um modo democrático redutor que nos leva a pensar que “todas as verdades se igualam”. Pois “na fecunda ligação entre o sensus fi dei do povo de Deus e a função magisterial dos pastores que se consegue o consenso unânime de toda a Igreja na mesma fé” 19.

São Bento salienta que “muitas vezes o Senhor revela a melhor decisão àqueles que não ocupam cargos importantes na comunidade (neste caso, os mais jovens)” 20.

Os Bispos tiveram o cuidado de escutar amplamente seu povo, para que, no decorrer do caminho sinodal, se realize o que o Apóstolo Paulo recomenda às comunidades: “Não extingais o Espírito; não desprezeis as profecias. Discerni tudo e cai com o que é bom.” (1Ts 5, 19-21).

O sensus fi dei de todos os batizados como uma fonte vital e uma via nova para a evangelização

A Comissão Teológica Internacional começou a estudar o tema do “sentido da fé” (sensus fidei) em dezembro de 2011, quer dizer, um ano antes da eleição do Papa Francisco em 13 de março de 2013. É notável constatar como o Espírito da Verdade tem sido capaz de guiar tanto os teólogos como o futuro Papa na mesma questão que se preocupa com este instinto infalível da verdadeira fé vivida entre o povo de Deus. O sensus fidei revelou-se, com efeito, um tema chave no pensamento teológico do Papa Francisco.

O Primeiro Concílio Apostólico de Jerusalém (cf. At 15 e Gl 2, 1-10) lidou com a questão tão importante sobre a identidade da Igreja e às condições que deveriam ser impostas aos gentios para serem admitidos no povo de Deus. É signifi cativo que o discernimento de tal questão tenha sido feito pelos Apóstolos na presença de toda a comunidade de Jerusalém. Os doze apóstolos convocaram “a assembleia dos discípulos” e tomaram uma decisão que “agradou a toda a assembleia” (cf. At 15, 22).

Perto de nós, o Concílio Vaticano II, na Constituição Lumen Gentium ensina: “A totalidade dos fiéis que receberam a unção do Santo (cf. Jo 2, 20 e 27), não pode enganar-se na fé; e esta sua propriedade peculiar manifesta-se por meio do sentir sobrenatural da fé do povo todo, quando este, desde os Bispos até ao último dos leigos fiéis, manifesta consenso universal em matéria de fé e costumes” 21.

A introdução do Documento Romano, comentando os escritos do Concílio, afirma:

Descartando a caricatura de uma hierarquia ativa e um laicato passivo e, particularmente, a noção de uma rigorosa separação entre a Igreja docente (Ecclesia docens) e a Igreja discente (Ecclesia discens), o Concílio ensinou que todos os batizados participam, cada um a seu modo, dos três ofícios de Cristo, profeta, sacerdote e rei.” 22

Em sua primeira exortação apostólica Evangelii gaudium (de 24 de novembro de 2013), o Papa Francisco ensina sobre o sensus fi dei como “o instinto de fé que assegura a infalibilidade ‘in credendo’ do povo de Deus” 23:

Em todos os batizados, desde o primeiro ao último, atua a força santifi cadora do Espírito que impele a evangelizar. O povo de Deus é santo em virtude desta unção, que o torna infalível «in credendo», ou seja, ao crer, não pode enganar-se, ainda que não encontre palavras para explicar a sua fé. O Espírito guia-o na verdade e condu-lo à salvação. Como parte do seu mistério de amor pela humanidade, Deus dota a totalidade dos fi éis com um instinto da fé – o sensus fi dei – que os ajuda a discernir o que vem realmente de Deus. A presença do Espírito confere aos cristãos uma certa conaturalidade com as realidades divinas e uma sabedoria que lhes permite captá-las intuitivamente, embora não possuam os meios adequados para expressá-las com precisão.” 24 “Por isso, desejo uma Igreja pobre para os pobres. Estes têm muito para nos ensinar. Além de participar do sensus fidei, nas suas próprias dores conhecem Cristo sofredor. É necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífi ca das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja. Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles.” 25

Mas esta consulta do sensus fidei no sentido amplo, torna, ao mesmo tempo, atual a necessidade de uma reflexão teológica e pastoral sobre a relação entre o sensus fidei e as diferentes opiniões que podem circular dentro da Igreja.

Terá que ser alcançado inevitavelmente um equilíbrio entre: Magistério, sensus fidei e teologia.

Até alguns anos atrás, o tema sensus fidei não aparecia dentre os temas de um documento magisterial. De fato, a expressão “sensus fidei” não é encontrada nas Escrituras ou no ensino formal da Igreja antes do Concílio Vaticano II. Entretanto, a ideia de que a Igreja como um todo é infalível em sua fé como Esposa de Cristo é evidente desde o início do cristianismo. É de fato através da “obediência da fé” (Rm 1, 5) que a graça de Deus liberta os seres humanos e os torna membros da Igreja (Gl 5, 1.13). E o Apóstolo Paulo reconhece a fé daqueles que creem, como uma realidade tanto pessoal quanto eclesial.

Foi em 2014 que a Comissão Teológica Internacional publicou este magnífi co documento: “O sensus fi dei na vida da Igreja”, expondo a posição da teologia católica de uma forma luminosa e sintética. O documento (que precisamos ler), apresenta o sensus fidei da Escritura, depois o sensus fi dei na vida e na história da Igreja.

A Comissão Teológica Internacional distingue entre “Sensus fidei (o sentido da fé em termos de conteúdo)” e “Sensus fidelium (o sentido dos fiéis)”. Este último afirma: “O que se torna tangível na crença do povo de Deus não é apenas por esta razão uma fé eclesiástica vinculante. Para qualifi car isto é competência do Magistério da Igreja” 26.

É o Magistério que avalia se as opiniões encontradas em meio ao povo de Deus, que parecem ser o sensus fidelium, correspondem realmente à verdade da tradição que vem dos Apóstolos. Newman diz: “O dom de discernir, discriminar, defi nir, promulgar e dar força de lei a qualquer parte da tradição reside unicamente na Ecclesia docens” 27.

Finalmente, o julgamento sobre a autenticidade do sensus fidelium não pertence aos membros do povo de Deus ou à teologia, mas ao Magistério. Somente esta autoridade eclesiástica tem o selo de confiabilidade na comunidade de fé. Vamos resumir os oito critérios listados no último capítulo, que devem constituir os bons e essenciais critérios de um autêntico sensus fidei:

- A participação na vida da Igreja;

- A escuta da Palavra de Deus;

- Abertura à razão;

- Adesão ao Magistério;

- Santidade;

- Humildade;

- Liberdade e alegria;

- A busca da edifi cação da Igreja.

Que nossas comunidades, paróquias e dioceses sejam reavivadas pela unção do Espírito Santo, para que, entre cada uma dessas realidades, o sensus ecclesiae e o sensus fidei do povo de Deus sejam reconhecidos!

A Virgem Maria, Mãe da Igreja, nos ajuda a retornar a esta passagem, que nos converte em ternura. Ela é, pela graça do Espírito, aquela que desarma os corações e simplifica os pensamentos. De fato, o Papa diz: “Porque sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto. N’Ela, vemos que a humildade e a ternura não zão virtudes dos fracos, mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentir importantes” 28.

Virgem Maria, Nossa Senhora dos Pobres, rogai por todos nós e por nossas comunidades!

Referências:

1 Cf. Dom Jean-Marc Aveline, Arcebispo de Marselha, França. Conferência Quaresmal de 13 de março de 2022.

2 Cf. Papa Francisco, Carta do Santo Padre a Igreja na Alemanha, 29 de junho de 2019, n. 11.

3 Cf. Joseph Ratzinger, El Dios de Jesucristo, Salamanca 1979.

4 Cf. Papa Francisco, Carta do Santo Padre a Igreja na Alemanha, 29 de junho de 2019, n. 9.

5 Papa Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (2013), n. 235. 6 Ibidem

7 Cf. Papa Francisco, Carta do Santo Padre a Igreja na Alemanha, 29 de junho de 2019, n. 10.

8 Cf. Papa Francisco, Carta do Santo Padre a Igreja na Alemanha, 29 de junho de 2019 n. 12.

9 Papa Bento XVI, Homilia, 01 de dezembro de 2009.

10 Ibidem

11 Ibidem

12 Papa Bento XVI, Homilia, 01 de dezembro de 2009.

13 Ibdem.

14 Ibdem.

15 Ibidem.

16 Cf. Papa Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 119.

17 Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumem Gentium, no 8, no 13.

18 Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, no 8, citado no Documento Preparatório para o Sínodo, n 13.

19 Cf. Documento Preparatório para o Sínodo, no 14.

20 Cf. Regra de São Bento, III.

21 Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, n. 12.

22 Comissão Teológica Internacional, O Sensus Fidei na Vida da Igreja, no 4.

23 Cf. Papa Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 119.

24 Cf. Papa Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 119.

26 Comissão Teológica Internacional, O Senso Fidei na Vida da Igreja, cap. 4, n. 97.

27 Ibidem, n. 77.

28 Papa Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 288.