Escuta sinodal com Pedro,os Apóstolos e o Povo de Deus | Palavra do fundador - Outubro 2023

 

Preparado como um percurso desde a sua abertura, em 10 de outubro de 2021, é neste mês de outubro que acontece em Roma o Sínodo 2023 sobre o tema da Sinodalidade.

Desde o início de seu Pontificado, o Papa Francisco sempre quis valorizar o Sínodo como “um dos legados mais preciosos da última sessão conciliar” 1. A importância deste tema da sinodalidade da Igreja foi reforçada desde o último Concílio Vaticano II:

Segundo o Papa São Paulo VI, o Sínodo dos Bispos devia repropor a imagem do Concílio Ecumênico e refletir o seu espírito e o seu método. O mesmo Pontífice previa que o organismo sinodal, ‘com o passar do tempo, poderia ser aperfeiçoado’. Fazia-lhe eco, vinte anos depois, São João Paulo II ao afirmar que ‘talvez este instrumento possa tornar-se ainda melhor. Talvez a responsabilidade colegial possa expressar-se no Sínodo de uma forma ainda mais plena’.

Por fim, em 2006, o Papa Bento XVI aprovava algumas variações no Ordo Synodi Episcoporum.” 2

O Papa Francisco deseja claramente avançar neste caminho sinodal:

O mundo, em que vivemos e que somos chamados a amar e servir mesmo nas suas contradições, exige da Igreja o reforço das sinergias em todas as áreas da sua missão. O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio.” 3

Uma dupla comunhão (inseparável): com Deus e entre nós

A Igreja, reunida por Cristo, o Filho de Deus encarnado, vive e avança através dos séculos, nutrindo a comunhão em Cristo, na força e na alegria do Espírito; pela qual todos são chamados a experimentar a salvação dada pelo Pai. O Apóstolo Paulo ao escrever aos Coríntios, menciona esta fonte trinitária (a fórmula de abertura de nossas celebrações até hoje): “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!” (2Cor 13, 13).

São Cipriano, no século III, descreve a Igreja como: “um povo unido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo” 4.

Ao longo dos séculos, a Igreja se estruturou organicamente sob a direção de seus legítimos Pastores. Ela continua a viver no mundo um mistério de comunhão e “reflete em certa medida a mesma comunhão trinitária” 5.

A “koinonía” do Espírito Santo significa não apenas “participação” pessoal na vida divina, mas também “comunhão entre os fiéis que o próprio Espírito suscita, como seu artífice e principal agente” 6.

O Evangelho de João enfatiza particularmente o mistério da comunhão de amor que liga o Filho ao Pai, e estes aos homens. Tal comunhão é, ao mesmo tempo, o modelo e a fonte da comunhão fraterna que deve unir os discípulos uns aos outros: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15, 12; cf. 13, 34; 17, 21-22).

E o Papa Bento XVI chega ao ponto de especificar: “Onde se destrói a comunhão com Deus, que é comunhão com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo, destrói-se também a raiz e a fonte da comunhão entre nós. E onde a comunhão entre nós não for vivida, também a comunhão com o Deus- Trindade não é viva nem verdadeira.” 7

A tentação de querer uma igreja de acordo com nossos critérios e discernimentos pessoais não é nova. A história do último cisma que levou à excomunhão não é tão antiga (segunda metade do século XX).

Com início na década de 70, o cisma provocado pelo arcebispo Marcel Lefebvre acabou terminando em excomunhão (a primeira crise entre o bispo e Roma ocorreu em 1974). O cisma com a Igreja Católica Romana foi consumado em 1988, o primeiro desde 1870, data do Concílio Vaticano I. Toda a história do movimento fundamentalista do bispo francês se enraizou por causa da sua feroz oposição em relação a três dimensões principais:

– Oposição ao Concílio Vaticano II (que se realizou de 1962 a 1965).

– Oposição à reforma litúrgica pedida pelo Papa São Paulo VI.

– Oposição ao ecumenismo desejado pelo Papa São João Paulo II.

Ao reler sobre a história do último cisma após o Vaticano II, fi co impressionado com a imensa paciência e pelas inúmeras tentativas de diálogo propostas pelos Papas São Paulo VI, São João Paulo II e Bento XVI. Hoje, “três papas depois”, o que dizer acerca desta nova igreja tradicionalista separada da Igreja Católica? Na brecha aberta pelo arcebispo Lefebvre, as três acusações do cisma permanecem tenazes em alguns lugares: as críticas ao último Concílio Vaticano II, a recusa da reforma litúrgica e certas dúvidas da ortodoxia do Papa Francisco, não continuam a circular hoje como uma espécie de vírus?

Como não nos perguntarmos legitimamente: quem ousaria se permitir o direito de julgar um concílio da história da Igreja? E no mesmo sentido, quem teria o direito e a competência para julgar a ortodoxia do papa? A única resposta que (talvez) poderia ser dada: a de um santo habitado por uma grande humildade. Mas será que um santo faria isso?

O Papa Francisco falou em várias ocasiões sobre as diferentes tentações que podem ser encontradas hoje dentro da Igreja, dentre elas estão:

Desde a época de Jesus, é a tentação dos zelosos, dos escrupulosos, dos cautelosos e dos chamados – hoje – ‘tradicionalistas’, e também dos intelectualistas. A tentação do angelismo destruidor, que em nome de uma misericórdia enganadora liga as feridas sem antes curá-las e medicá-las; que trata os sintomas e não as causas nem as raízes. É a tentação dos integristas, dos meticulosos e também dos chamados ‘progressistas e liberalistas’.” 8

Na Igreja, o Senhor permanece sempre nosso contemporâneo

Voltemos à fonte de nossa unidade e comunhão: a Igreja de Jerusalém, logo após o primeiro Pentecostes e durante seu primeiro Concílio, certamente já estava passando por desacordos nas interpretações teológicas e pastorais entre os cristãos.

Mas os Apóstolos reunidos em concílio acreditavam fortemente na assistência e na inspiração do Espírito Santo que conduz a Igreja:

Tendo sabido que alguns dos nossos, sem mandato de nossa parte, saindo até vós, perturbaram-vos, transtornando vossas almas com suas palavras, pareceu-nos bem, chegados a pleno acordo, escolher alguns representantes e enviá-los a vós junto com nossos diletos Barnabé e Paulo, homens que expuseram suas vidas pelo nome de nosso Senhor, Jesus Cristo. Nós vos enviamos, pois, Judas e Silas, eles também transmitindo, de viva voz, estas mesmas coisas. De fato, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós.” (At 15, 24-28)

De fato, foi o mesmo Espírito Santo que conduziu a Igreja no primeiro Concílio de Jerusalém, como o fez posteriormente ao longo dos séculos e através de todos os outros Concílios da história. Quem poderia duvidar disso!

Também foi o mesmo Espírito Santo que conduziu e inspirou o último Concílio Vaticano II, por meio dos sucessores de Pedro: os Papas São João XXIII e São Paulo VI.

É sempre uma grande tentação desejar “refazer a história”. É o que nos testemunha o olhar de fé e de confiança eclesial do Papa Bento XVI:

A Igreja revela-se assim, apesar de todas as fragilidades humanas que pertencem à sua fisionomia histórica, uma maravilhosa criação de amor, feita para aproximar Cristo de cada homem e mulher que queira verdadeiramente encontrá-lo, até ao fim dos tempos. E na Igreja, o Senhor permanece sempre nosso contemporâneo. A Escritura não é uma coisa do passado. O Senhor não fala no passado, mas no presente, fala hoje conosco, dá-nos luz, mostra-nos o caminho da vida, dá-nos comunhão e assim nos prepara e abre para a paz.” 9

A sinodalidade vivida em comunhão com Pedro e seu sucessor: o Papa Francisco

É claro que a escuta eclesial e sinodal não pode existir sem o Bispo de Roma, chamado a pronunciar-se como “Pastor e Doutor de todos os cristãos, não a partir de suas convicções pessoais, mas como testemunha suprema [...]e garante da obediência e da conformidade da Igreja com a vontade de Deus, o Evangelho de Cristo e a Tradição da Igreja” 10.

O Sínodo de fato atua com Pedro e sob a autoridade de Pedro (cum Petro et sub Petro), isto não signifi ca uma “limitação da liberdade, mas uma garantia da unidade” 11.

O bispos estão unidos ao Bispo de Roma pelo vínculo da comunhão episcopal (cum Petro) e, ao mesmo tempo, estão hierarquicamente sujeitos a ele como Cabeça do Colégio (sub Petro).” 12

Pedro é e continua sendo a “rocha” cuja missão é “confirmar seus irmãos na fé” (cf. Lc 22, 32) 13.

O Papa Francisco expressa esta visão de uma “Igreja sinodal”, ou seja, a Igreja hierárquica e servidora na forma de uma “pirâmide invertida, o vértice encontra-se abaixo da base. Por isso, aqueles que exercem a autoridade chamam-se ‘ministros’, porque, segundo o significado original da palavra, são os menores no meio de todos” 14.

Esta visão exige uma atitude de escuta humilde de todos os fiéis: “da base ao topo da hierarquia”, a de uma Igreja descentralizada, uma Igreja em forma de pirâmide invertida, na qual o Papa não concentra todos os poderes, não está acima, mas abaixo, “a serviço” da unidade da Igreja.

É servindo o povo de Deus que cada bispo se torna, para a porção do Rebanho que lhe está confiada, vicarius Christi, vigário daquele Jesus que, na Última Ceia, Se ajoelhou a lavar os pés dos Apóstolos (cf. Jo 13, 1-15). E, num tal horizonte, o Sucessor de Pedro nada mais é do que servus servorum Dei.” 15

Finalmente, o caminho sinodal culmina na escuta do Bispo de Roma, chamado a pronunciar-se como ‘Pastor e Doutor de todos os cristãos’, não a partir das suas convicções pessoais, mas como suprema testemunha da fides totius Ecclesiae, ‘garante da obediência e da conformidade da Igreja com a vontade de Deus, o Evangelho de Cristo e a Tradição da Igreja’.” 16

A sinodalidade vivida com os Bispos, sucessores dos Apóstolos

De fato, os Doze como disse o papa Clemente, terceiro Sucessor de Pedro, no fi nal do século I tiveram a preocupação de se constituírem sucessores, para que a missão que lhes foi confi ada continuasse depois da sua morte.” 17

Assim começou a sucessão apostólica.

Por isso, os Pastores, constituídos por Deus ‘como autênticos guardiões, intérpretes e testemunhas da fé de toda a Igreja’, não tenham medo de se colocar à escuta do rebanho que lhes for confiado: a consulta do povo de Deus não exige a assunção, no seio da Igreja, dos dinamismos da democracia centrados no princípio de maioria, uma vez que na base da participação em qualquer processo sinodal está a paixão partilhada pela missão comum de evangelização, e não a representação de interesses em conflito. Por outras palavras, trata-se de um processo eclesial, que só pode realizar-se ‘no seio de uma comunidade hierarquicamente estruturada’.” 18

O caminho do Sínodo continua escutando os pastores. Através dos padres sinodais, os bispos agem como autênticos guardiões, intérpretes e testemunhas da fé de toda a Igreja, que devem saber cuidadosamente discernir dos fluxos frequentemente mutáveis da opinião pública. Na véspera do Sínodo do ano passado, afirmava: ‘Para os padres sinodais pedimos antes de mais nada, do Espírito Santo, o dom da escuta: escuta de Deus até ouvir com Ele o grito do povo; escuta do povo, até respirar nele a vontade a que Deus nos chama’.” 19

É na fecunda ligação entre o sensus dei do povo de Deus e a função de magistério dos pastores que se realiza o consenso unânime de toda a Igreja na mesma fé. [...] Os Bispos são chamados a discernir aquilo que o Espírito diz à Igreja, não sozinhos, mas ouvindo o povo de Deus, que ‘participa também da função profética de Cristo’, constitui uma forma evidente daquele ‘caminhar juntos’ que faz crescer a Igreja.” 20

Complementaridade e cooperação...

São Bento salienta que ‘muitas vezes o Senhor revela a melhor decisão’ a quem não ocupa posições relevantes na comunidade (neste caso, o mais jovem); assim, os Bispos tenham o cuidado de alcançar todos, a fim de que no desenrolar ordenado do caminho sinodal se realize aquilo que o Apóstolo Paulo recomenda às comunidades: ‘Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo: abraçai o que é bom’ (1Ts 5, 19-21).” 21

O sentido do caminho ao qual todos somos chamados consiste, antes de mais nada, em descobrir o rosto e a forma de uma Igreja sinodal, em que ‘cada um tem algo a aprender. Povo fi el, Colégio episcopal, Bispo de Roma: cada um à escuta dos outros; e todos à escuta do Espírito Santo, o ‘Espírito da verdade’ (Jo 14, 17), para conhecer aquilo que Ele ‘diz às Igrejas’ (Ap 2, 7)’. [...] Neste ‘caminhar juntos’, peçamos ao Espírito que nos leve a descobrir como a comunhão, que compõe na unidade a variedade dos dons, dos carismas e dos ministérios, tem em vista a missão: uma Igreja sinodal é uma Igreja ‘em saída’, uma Igreja missionária, ‘com as portas abertas’.” 22

Valorização da Subsidiariedade

Após a grande depressão econômica de 1929, o Papa Pio XI explicou a importância do princípio de subsidiariedade para viver uma época de reconstrução.” 23

Se nossos Bispos manifestam o desejo de escutar seu povo e esperam que o povo assuma novas responsabilidades em cooperação e serviço, de igual modo, os membros do povo de Deus também esperam que os Pastores incentivem o funcionamento da subsidiariedade na Igreja. É essa subsidiariedade que permite mostrar atenção e respeito em todos os níveis e a todos os “corpos intermediários”, nos diferentes ministérios, responsabilidades e serviços da Igreja.

Neste sentido, o Papa Francisco incentiva: “recursos culturais, religiosos, econômicos ou de participação cívica, eles revitalizam e fortalecem o corpo social. Isto é, existe uma colaboração de cima para baixo e de baixo para cima. [...] É precisamente este o exercício do princípio de subsidiariedade. Atualmente, esta falta de respeito pelo princípio da subsidiariedade propagou-se como um vírus [...] Todas as partes de um corpo são necessárias e, como diz São Paulo, as partes que podem parecer mais frágeis e menos importantes são na realidade as mais necessárias (cf. 1Cor 12, 22).” 24

Abertura ecumênica

Isto inclui a chamada a aprofundar as relações com as outras Igrejas e comunidades cristãs, com as quais estamos unidos mediante o único Batismo. Além disso, a perspetiva de ‘caminhar juntos’ é ainda mais vasta e abrange toda a humanidade, da qual compartilhamos ‘as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias’. Uma Igreja sinodal é um sinal profético sobretudo para uma comunidade de nações incapaz de propor um projeto partilhado, através do qual perseguir o bem de todos: praticar a sinodalidade é, hoje para a Igreja, a maneira mais evidente de ser ‘sacramento universal da salvação’, ‘sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano’.” 25

“Na exortação apostólica Evangelii gaudium, sublinhei como ‘o povo de Deus é santo em virtude desta unção, que o torna infalível ‘in credendo’, acrescentando que ‘cada um dos batizados, independentemente da própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização, e seria inapropriado pensar num esquema de evangelização realizado por agentes qualificados enquanto o resto do povo fi el seria apenas  receptor das suas ações’.” 26

O diálogo e o sentido da escutasegundo o Papa Francisco

O Sínodo dos Bispos é o ponto de convergência destedinamismo de escuta, efetuado a todos os níveis da vida da Igreja. O caminho sinodal começa por escutar o povo, que ‘participa também da função profética de Cristo’, de acordo com um princípio caro à Igreja do primeiro milênio: ‘Quod omnes tangit ab omnibus tractari debet’ [O que diz respeito a todos deve ser tratado por todos’].” 27

“Um Igreja sinodal é uma Igreja da escuta, ciente de que escutar ‘é mais do que ouvir’. É uma escuta recíproca, onde cada um tem algo a aprender. Povo fiel, Colégio Episcopal, Bispo de Roma: cada um à escuta dos outros; e todos à escuta do Espírito Santo, o ‘Espírito da verdade’ (Jo 14, 17), para conhecer aquiloque Ele ‘diz às Igrejas’ (Ap 2, 7).” 28

O Papa Francisco, em sua Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais 2022, deu uma mensagem notável sobre o tema da escuta, no sentido amplo das relações sociais. Gostaria de destacar alguns de seus traços essenciais a serviço do sentido sinodal:

• “A um médico ilustre, habituado a cuidar das feridas da alma, foi-lhe perguntada qual era a maior necessidade dos seres humanos. Respondeu: ‘O desejo ilimitado de ser escutados’. Apesar de frequentemente oculto, é um desejo que interpela toda a pessoa chamada a ser educadora ou formadora.

• ‘A fé vem da escuta’ (Rm 10, 17). De fato, a iniciativa é de Deus, que nos fala, e a ela correspondemos escutando-O; e mesmo este escutar fundamentalmente provém da sua graça, como acontece com o recém-nascido que responde ao olhar e à voz da mãe e do pai. Entre os cinco sentidos, parece que Deus privilegie precisamente o ouvido, talvez por ser menos invasivo, mais discreto do que a vista, deixando consequentemente mais livre o ser humano.

A escuta corresponde ao estilo humilde de Deus.

• O homem, ao contrário, tende a fugir da relação, a virar as costas e ‘fechar os ouvidos’ para não ter de escutar. Esta recusa de ouvir acaba muitas vezes por se transformar em agressividade sobre o outro, como aconteceu com os ouvintes do diácono Estêvão que, tapando os ouvidos, atiraram-se todos juntos contra ele (cf. At 7, 57).

• Por isso Jesus convida os seus discípulos a verificar a qualidade da sua escuta. ‘Vede, pois, como ouvis’ (Lc 8, 18): faz-lhes esta exortação depois de ter contado a parábola do semeador, sugerindo assim que não basta ouvir, é preciso fazê-lo bem. Só quem acolhe a Palavra com o coração ‘bom e virtuoso’ e a guarda fielmente é que produz frutos de vida e salvação (cf. Lc 8, 15).

• E Santo Agostinho convida-nos a escutar com o coração (corde audire), a acolher as palavras, não exteriormente nos ouvidos, mas espiritualmente nos corações: ‘Não tenhais o coração nos ouvidos, mas os ouvidos no coração’. E São Francisco de Assis exortava os seus irmãos a ‘inclinar o ouvido do coração’.

• Há um uso do ouvido que não é verdadeira escuta, mas o contrário: o espionar. De fato, uma tentação sempre presente, mas que neste tempo da social web parece mais assanhada, é a de procurar saber e espiar, instrumentalizando os outros para os nossos interesses [...] em vez de escutar os outros, ‘se fala deles pelas costas’.

• ‘Devemos escutar através do ouvido de Deus, se queremos poder falar através da sua Palavra’. Assim nos lembra o teólogo protestante Dietrich Bonhöffer que o primeiro serviço na comunhão que devemos aos outros é prestar-lhes ouvidos. Quem não sabe escutar o irmão, bem depressa deixará de ser capaz de escutar o próprio Deus.

• Na ação pastoral, a obra mais importante é o ‘apostolado do ouvido’. Devemos escutar, antes de falar, como exorta o Apóstolo Tiago: ‘cada um seja pronto para ouvir, lento para falar’ (Tg 1, 19). Oferecer gratuitamente um pouco do próprio tempo para escutar as pessoas é o primeiro gesto de caridade.” 29

Que Nosso Senhor dê às nossas comunidades e a cada um de nós a graça de participar neste presente Sínodo, em comunhão com nossos Bispos e nosso Papa, ao menos pela nossa oração, pela nossa comunhão e pelo nosso amor à Igreja.


Referências:

1 Papa Francisco, Discurso em 17 de outubro de 2015.

2 Cf. Ibdem.

3 Ibidem.

4 São Cipriano, De orat. Dom. 23, cit. em Lumen Gentium, n. 4.

5 Bento XVI, Audiência Geral em Roma, 29 de março de 2006.

6 Bento XVI, Audiência Geral em Roma, 29 de março de 2006.

7 Ibidem

8 Cf. Papa Francisco, Discurso no Encerramento da III Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, 18 de outubro de 2014.

9 Bento XVI, Audiência Geral, 29 de março de 2006.

10 Papa Francisco, Discurso, 17 de outubro de 2015.

11 Papa Francisco, Discurso, 17 de outubro de 2015.

12 Papa Francisco, Discurso, 17 de outubro de 2015..

13 Cf. Ibidem.

14 Ibidem.

15 Ibidem

16 Ibidem

17 Papa Bento XVI Audiência Geral em Roma, 29 de março de 2006.

18 Documento Preparatório da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, 07.09.2021. Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão, n. 14.

19 Papa Francisco, Discurso, 17 de outubro de 2015.

20 Documento Preparatório da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, 07.09.2021. Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão, n. 14. 21 Ibidem

22 Ibidem, n. 15.

23 Papa Francisco, Audiência Geral em Roma, 23 de setembro de 2020.

24 Papa Francisco, Audiência Geral, 23 de setembro de 2020.

25 Documento Preparatório da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, 07.09.2021. Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão, n. 15.

26 Papa Francisco, Discurso, 17 de outubro de 2015.

27 Ibidem

28 Papa Francisco, Discurso, 17 de outubro de 2015.

29 Cf. Papa Francisco, Mensagem para o 56o Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24 de maio de 2022.