Caritas in veritate, a caridade na verdade | Palavra do fundador - Setembro 2023

 

“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos.” (Jo 15, 13)

Este mês de setembro é particularmente marcado pelo tema do amor-agape: o do próprio Cristo, em Sua Cruz Gloriosa (14 de setembro), de Nossa Senhora das Dores (15 de setembro), mas também através de grandes santos: São Gregório, o Grande (3 de setembro), Santa Madre Teresa de Calcutá (5 de setembro), São João Crisóstomo (13 de setembro), São Mateus (21 de setembro), São Vicente de Paulo (27 de setembro), São Jerônimo (30 de setembro), sem esquecer os Santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael (29 de setembro).

A renúncia a si mesmo para amar o outro e os outros

Quando se trata de amor, e sobretudo de amor ao próximo e aos irmãos, o cristão contemporâneo muitas vezes pensa em um amor de natureza afetiva e, acima de tudo, sentimental. Sem dúvida você já notou em várias ocasiões, basta irmos a um escritório de serviço administrativo (ou a qualquer outro organismo) para fazermos perguntas e pedirmos alguma informação, é preciso bem pouco para que a pessoa que está sendo questionada se sinta atacada ou como se estivesse sendo pega em uma falta. Então esse funcionário que foi questionado provavelmente responderá de forma muito desagradável. Além disso, como os ritmos da vida mudaram, acelerando e buscando a eficácia, a velocidade e o consumo, as relações impregnadas de gratuidade, fraternidade ou mesmo de amizade não foram favorecidas. Mas então, como poderemos passar de relações demasiadamente humanas, superficiais e rápidas para uma relação de qualidade?

A necessidade das virtudes da humildade e da renúncia de si para amar

A renúncia é uma oferenda (feita a Deus), que consiste em abrir mão de algo, de si mesmo, despojando-se. Esta oferta geralmente não tem nada de externa ou de visível, mas é a oferta de si mesmo que o Senhor espera, em obediência à Sua vontade. Seguindo Cristo, o discípulo que aceita dar sua vida e entregar algo de si mesmo para seu Senhor, torna-se livre.

“Dizia Ele a todos: ‘Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me’. Pois aquele que quiser salvar sua vida a perderá, mas o que perder sua vida por causa de mim, a salvará.” (Lc 9, 23-24)

Assim como a oferta de Cristo é voltada para o Pai e em favor dos homens, o ato interior de renúncia de si não é apenas um ato de mortificação e de repressão, mas é igualmente positivo: um dom de si, uma oferta a Deus para os outros, tornada possível pela graça do Espírito Santo através de atos de fé, de esperança e de caridade. A renúncia faz parte de toda a vida cristã. Tudo o que compõe a vida de um cristão é para ser oferecido. Oferecer também as alegrias, os sucessos, mas também as tristezas, aquilo que nos custa e as desapontamentos.

O amor, motivo e motor da renúncia a si mesmo

“Andai em amor, assim como Cristo também vos amou e se entregou por nós a Deus, como oferta e sacrifício de odor suave.” (Ef 5, 2)

A Constituição Lumen Gentium do Concílio Vaticano II reúne de forma precisa e teológica este sentido de oferta da vida cristã:

“[...] pois todos os seus trabalhos, orações e empreendimentos apostólicos, a vida conjugal e familiar, o trabalho de cada dia, o descanso do espírito e do corpo, se forem feitos no Espírito, e as próprias incomodidades da vida, suportadas com paciência, se tornam em outros tantos sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo (cf. 1 Pd. 2, 5); sacrifícios estes que são piedosamente oferecidos ao Pai, juntamente com a oblação do corpo do Senhor, na celebração da Eucaristia.” 1

Em suas obras de vida espiritual, São João da Cruz define esta importante chave: “O amor não consiste na grandeza do sentimento, mas em ter um grande desnudamento e na paciência em padecer pelo Bem-amado” 2

O verdadeiro amor inclui a renúncia, a paciência, o despojamento dos próprios interesses não apenas em vista de uma causa justa, mas por amor a alguém.

Como entrar melhor no amor e como amar melhor? Pela oferta de bom coração de certas renúncias, renúncia ao meu amor-próprio, à minha vontade de ter razão, minha tendência de me defender, minha necessidade de falar, de reagir rapidamente. Há tantas pequenas coisas de nossas sensibilidades que reclamam serem colocadas em primeiro lugar. Trata-se então de voltar a um ato de oferenda interior, aceitando “perder para ganhar”.

“Exorto-vos, portanto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito.” (Rm 12, 1-2)

“Pois ninguém de nós vive e ninguém morre para si mesmo, porque se vivemos é para o Senhor que vivemos, e se morremos é para o Senhor que morremos. Portanto, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor.” (Rm 14, 7-8)

Para fazer o que agrada a Deus, devo às vezes (talvez numerosas vezes) renunciar a fazer o que me agrada. É o amor que então toma conta, para aceitar entrar na renúncia dia após dia. Muitas vezes é uma questão de não se deixar preocupar com os assuntos a serem resolvidos, mesmo quando são legítimos e, ainda mais, se forem apostólicos.

Existem dois tipos de vida cristã: aquela que, embora cristã, não é realmente oferecida a Deus, no sentido em que é a pessoa que faz, vive e decide tudo a partir de si mesma. Esta vida cristã é, de fato, “mal oferecida” a Deus, ou seja, a pessoa ainda não renunciou sua vida interior e são suas reações naturais e psíquicas que reagem e assumem o controle.

A outra forma de viver a vida cristã é aquela que é oferecida a Deus por amor.

Desde o início do nosso dia, o primeiro pensamento consiste em oferecer nossa vida para Deus e por Ele. Então o dia assumirá um aspecto diferente: é Deus quem vai dirigir nossas vidas. E se surgirem provas ou dificuldades, poderemos então vivê-las de uma maneira mais bem preparada.

Santa Teresa do Menino Jesus viveu esta oferenda de amor dia após dia de uma maneira notável:

“Sou apenas uma criança, impotente e fraca. Contudo, é minha própria fraqueza que me dá a audácia de oferecer-me como Vítima ao teu Amor, oh, Jesus! Outrora, somente as vítimas puras e sem manchas eram aceitas pelo Deus forte e poderoso (...) Para satisfazer a Justiça divina, eram precisas vítimas perfeitas, mas à lei do temor sucedeu a lei do Amor, e o Amor escolheu-me para holocausto, a mim, criatura fraca e imperfeita... Esta escolha não é ela digna de Amor?... Sim, para que o Amor seja plenamente satisfeito, é preciso que se abaixe, que desça até o nada...[...] Oh, Jesus ! Eu sei: amor só com amor se paga. Por isso, procurei e encontrei o meio de aliviar meu coração, dando-te amor por Amor.” 3

Não é a quantidade a ser oferecida ao Senhor que conta, mas a oferta do nosso coração. Trata-se de oferecer-se para se deixar fazer e não para fazer as coisas para Deus ou em seu lugar. Esta oferta pressupõe o dom de nós mesmos. Para se entregar na verdade, sem ilusão, enganando-nos a nós mesmos.

À medida em que vivemos esta oferta constante e pessoal, estamos bem dentro da vocação recebida do Senhor. Assim, esta oferta estará mais harmonizada com a qualidade da vida fraterna e comunitária e, praticando-a, cresceremos na vida espiritual.

O “homem velho” que age e reclama em nós não é um ser livre, porque ainda não foi visitado pelo Evangelho da nova vida no Espírito. É por isso que ele faz sentir suas reclamações: “meus bens legítimos, meu tempo, meus filhos, minhas férias, meu orçamento, minha opinião...”. Ele está constantemente concentrado em seus direitos, os quais, se não forem satisfeitos, o tornam um ser continuamente frustrado e desapontado.

Se ainda relutamos para oferecer estas “pequenas”variações de humor e conforto interior é sinal de que nosso coração ainda permanece dividido. Santa Teresinha do Menino Jesus permanece para nós esta Doutora do Amor e da vida interior e espiritual: “O amor alimenta-se de sacrifícios, e quanto mais a alma recusa satisfações naturais, mais sua ternura se torna forte e desinteressada” 4

Para chegar ao ponto de recusar as satisfações naturais é necessário desenvolver uma forte e profunda vida espiritual de união a Deus. Pois não há Amor verdadeiro, senão aquele que aceita a dimensão do sacrifício.

“Amar é tudo dar e dar-se a si mesmo.” 5

A graça da renúncia conduz à força de alma

O Apóstolo Paulo viveu uma força interior que verdadeiramente se manifestou em todo o seu ministério e em suas ações apostólicas. Por isso, ele pôde recomendar aos cristãos de Corinto:

“Vigiai, permanecei firmes na fé, sede corajosos, sede fortes! Fazei tudo na caridade.” (1Cor 16, 13)

O autor da Carta aos Hebreus, certamente inspirado pelas recomendações paulinas, liga o desânimo da alma aos sofrimentos do Senhor:

“Considerai, pois, aquele que suportou tal contradição por parte dos pecadores, para não vos deixardes fatigar pelo desânimo.” (Hb 12, 3)

O lema do Movimento Eucarístico Juvenil (inspirado na espiritualidade inaciana) é este: “Reza! Comunga! Sacrifica-te! Sê apóstolo!” 6

sacrifício é certamente o mais difícil e, no entanto, continua a ser a chave do amor e da evangelização.

“Mais ainda: tudo considero perda, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por Ele, perdi tudo e tudo tenho como esterco, para ganhar a Cristo e ser achado Nele, não tendo como minha justiça aquela que vem da Lei, mas aquela pela fé em Cristo, aquela que vem de Deus e se apoia na fé.” (Fl 3, 8-9)

Na medida em que aprendemos a renunciar a nós mesmos e a aceitar fazer algum sacrifício, entramos na graça da humildade. E, entrando na virtude da humildade, podemos entrar mais profundamente na prática da virtude da caridade. Este é o caminho e o programa que Paulo apresenta à comunidade de Filipos, que ele ama particularmente:

“Portanto, pelo conforto que há em Cristo, pela consolação que há no amor, pela comunhão no Espírito, por toda ternura e compaixão, levai à plenitude minha alegria, pondo-vos acordes no mesmo sentimento, no mesmo amor, numa só alma, num só pensamento, nada fazendo por competição e vanglória, mas com humildade, julgando cada um os outros superiores a si mesmo, nem cuidando cada um só do que é seu, mas também do que é dos outros.” (Fl 2, 1-4)

Pensar primeiramente nos interesses do bem comum antes de pensar nos seus próprios interesses

Desde o início, a marca distintiva dos cristãos foi dada pelo próprio Jesus: “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13, 35).

A força do amor dos primeiros cristãos espalhou-se, pouco a pouco, transformando gradualmente as estruturas da sociedade pagã do Império Romano em uma cultura onde reinava o amor e a justiça.

Um dos primeiros testemunhos das primeiras comunidades foi transmitido pela Carta a Diogneto, escrita por um autor anônimo dos primeiros séculos de nossa era:

“Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens [...] nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver. [...] vivendo em cidades como os outros, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida social admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, e cada pátria é estrangeira [...] estão na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu.” 7

A Eucaristia nos dá a força para amar e precisamos nos alimentar do pão dos fortes para continuar a amar todos os nossos irmãos acima de tudo. “Vede como eles se amam” 8 diziam os pagãos da Roma Antiga quando viam os primeiros cristãos, espalhados por todo o Império, renovar os velhos odres do paganismo com o vinho novo de Jesus Cristo. Não há argumento mais convincente, que mais atrai para a Igreja e capaz de torná-la mais forte do que a caridade.

No entanto, podemos nos perguntar se o amor que não acolhe o sofrimento ainda pode ser chamado de “amor”, pois todo amor verdadeiro inclui o sofrimento como uma manifestação do amor que amadureceu. É sobre este amor que São Paulo testemunha em suas cartas:

“Agora regozijo-me nos meus sofrimentos por vós, e completo o que falta às tribulações de Cristo em minha carne pelo Seu Corpo, que é a Igreja.” (Cl 1, 24)

São João Paulo II, em sua Carta Apostólica “Salvifici Doloris” sobre o sofrimento, interpreta o Apóstolo nestes termos:

“Cristo no mistério da Igreja, que é o Seu Corpo, em certo sentido abriu o próprio sofrimento redentor a todo o sofrimento humano. Na medida em que o homem se torna participante nos sofrimentos de Cristo – em qualquer parte do mundo e em qualquer momento da história – tanto mais ele completa, a seu modo, aquele sofrimento, mediante o qual Cristo operou a Redenção do mundo. Quererá isto dizer, porventura, que a Redenção operada por Cristo não é completa? Não. Isto significa apenas que a Redenção, operada por virtude do amor reparador, permanece constantemente aberta a todo o amor que se exprime no sofrimento humano.” 9

Santa Edith Stein (Santa Teresa Benedita da Cruz, 1891-1942) foi traspassada em 1917 pelo testemunho pacífico, confiante e cheio de esperança de sua amiga Anna Reinach, imediatamente após a morte de seu marido Adolf. A jovem judia e futura santa descobriu pela primeira vez o mistério da Cruz como uma fonte de paz confiante.

“Mais tarde ela escreveu: Foi o meu primeiro encontro com a Cruz e com a força divina que ela transmite aos que a carregam. (...) Foi o momento em que minha descrença se quebrou (...) e Cristo resplandeceu diante de mim” 10

“... o que não estava no meu plano estava no plano de Deus. E quanto mais tais coisas me acontecem, mais viva se torna em mim a convicção de minha fé de que - do ponto de vista de Deus - nada é acidental, que toda a minha vida, mesmo os mínimos detalhes, foi pré-projetada nos planos da divina providência e diante do olhar absolutamente límpido de Deus, ela apresenta uma unidade perfeitamente cumprida.” 11

Foi em 09 de agosto de 1942 que a Irmã Teresa Benedita da Cruz, junto com sua irmã Rose e muitos outros membros de seu povo, morreram nas câmaras de gás de Auschwitz.

Com sua beatificação na Catedral de Colônia em 1º de maio de 1987, a Igreja homenageou, como disse o Papa João Paulo II, “uma filha de Israel, que durante as perseguições aos nazistas permaneceu unida com fé e amor ao Senhor Crucificado, Jesus Cristo, como católica, e a seu povo como judia” 12

Madre Teresa de Calcutá, com uma mão segura a mão de uma criança e, com a outra, passa as contas do Rosário

Nascida na Albânia (1910-1997), fundadora das Missionárias da Caridade, ela dedicou toda sua vida ao serviço dos mais pobres entre os pobres. O Senhor a escolheu como missionária usando a linguagem mais universal: a caridade sem limites, sem exclusão e sem preferência, exceto para os mais abandonados “para anunciar o Evangelho a todo o mundo não com a pregação, mas com gestos quotidianos de amor em benefício dos mais pobres” 13

No século XX, ela foi um exemplo de missionariedade para o mundo inteiro:

“A vida religiosa de Madre Teresa é profunda e totalmente missionária. A sua vocação à missão levou-a a deixar a sua pátria e a partir para uma nação que tinha necessidade de se abrir a Cristo.

Não satisfeita com aquilo que doava, ela acolheu uma outra vocação dentro de sua primeira vocação, a uma voz que lhe dizia que devia oferecer mais, entregando-se inteiramente aos pobres, aos mais pobres entre os pobres.” 14

“[...] a força da pequena e frágil missionária está totalmente em Deus: centrada em Jesus Cristo, e animada por uma amor sem limites por aqueles que estavam sem amor e sem esperança.” 15

Seu segredo para ter a força de fazer tanto bem era a oração e a contemplação silenciosa de Jesus Cristo. Ela dizia: “O fruto do silêncio é oração; o fruto da oração é fé; o fruto da fé é amor; o fruto do amor é serviço; e o fruto do serviço é paz” 16

16 Citado por São João Paulo II, Discurso aos peregrinos vindos a Roma para a Beatificação de Madre Teresa de Calcutá, n. 3, 20 de outubro de 2003. . Ela vivia na sua própria pessoa e em seu carisma, a unidade em todas estas dimensões: contemplação e ação, evangelização e promoção humana.

Ela costumava dizer: “Se ouvir que alguma mulher não deseja ter o seu menino e pretende abortar, eu procuro convencê-la a trazer-me o menino. Eu amá-lo-ei, vendo nele o sinal do amor de Deus” 17

17 Citado por São João Paulo II, Homilia durante Solene Rito de Beatificação de Madre Teresa de Calcutá, n. 1, 19 de outubro de 2003..

As renúncias e o sofrimento fazem parte do amor Agape

Madre Teresa de Calcutá, cuja memória a Igreja celebra este mês, verdadeiramente ensinou por sua vida, o amor à caridade, o ágape evangélico transmitido por São Paulo:

“Não imagine que o amor, para ser verdade, deve ser extraordinário. O que é necessário é continuar amando. Como brilha uma lâmpada, se não pelo fornecimento contínuo de pequenas gotas de óleo? (...) Meus amigos, o que são essas gotas de óleo em nossas lâmpadas? São as pequenas coisas da vida cotidiana: a alegria, a generosidade, as pequenas palavras de bondade, a humildade e a paciência, simplesmente também um pensamento para os outros, nossa maneira de estar em silêncio, de escutar, de olhar, de perdoar, de falar e de agir. Estas são as verdadeiras gotas de amor que fazem toda uma vida se consumir com uma chama viva.” 18

Irmã Marie, a primeira francesa a se tornar uma Missionária da Caridade, conviveu com ela em Calcutá durante trinta anos. Ela dá testemunho da vida cotidiana da santa missionária em seu livro: Tudo começou em Calcutá:

“Como enfermeira, sempre quis remediar o sofrimento, físico ou mental, de meus contemporâneos. Mas o que Madre Teresa me pedia, como pediu a todas as suas irmãs, foi muito mais longe: ‘Dê não só suas mãos, mas também seu coração’, e ela acrescentou: ‘Não tenha medo de amar até o sofrimento. Para que o amor seja autêntico, o amor deve custar. Custou caro a Jesus amar-nos.” 19

Na renúncia ao conforto e na aceitação de uma extrema simplicidade

“Viver pobremente significava, antes de tudo, renunciar a certo conforto. Assim, usamos velas para iluminar, antes de utilizar lâmpadas de pouca intensidade que só produziam uma luz difusa. Era isto que Madre Teresa queria: os pobres tinham eletricidade?

Não era melhor lhes destinar o máximo de recursos possível? Também não havia ventiladores, já que as pessoas pobres que tínhamos que servir não tinham nenhum. Eu estava em perfeita sintonia com esta abordagem, ela me convinha e nunca sofri realmente desta extrema simplicidade em nossa vida diária.” 20

Onde estão os pobres?

“A Irmã Andrea recorda a primeira viagem de Madre Teresa ao Vaticano, a convite do Papa Paulo VI, em 1968. Ao descobrir o esplendor do ouro dos palácios pontifícios, Madre Teresa, horrorizada, não podendo acreditar no que via, exclamou: ‘Meu Deus, onde estão os pobres? Ela agitou a hierarquia do Vaticano, exigiu que a deixassem sair imediatamente e insistiu tanto que finalmente um bispo a levou para os becos miseráveis da periferia de Roma, onde percebeu que também aqui tinha que fundar uma casa das Missionárias da Caridade.” 21

‘O Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos’ (Mc 10, 45). Madre Teresa partilhou a paixão do Crucificado, de modo especial durante longos anos de ‘obscuridade interior’. Aquela foi a prova, por vezes lancinante, acolhida como um singular ‘dom e privilégio’.” 22

22 São João Paulo II, homilia durante Solene Rito de Beatificação de Madre Teresa de Calcutá, n. 5, dada aos 19 de outubro de 2003.

Oração de Madre Teresa para obter a graça de um amor que renúncia a si, que aceita o sofrimento e o sacrifício

Faça assim mesmo!

“As pessoas são muitas vezes irracionais, ilógicas e egocêntricas, Perdoe-as assim mesmo...

Se você for gentil, as pessoas podem acusá-lo de ser egoísta e ter segundas intenções,

Seja gentil assim mesmo...

Se você tiver sucesso, encontrará falsos amigos e verdadeiros inimigos,

Seja bem-sucedido assim mesmo...

Se você for honesto e direto, as pessoas podem tirar proveito de você,

Seja honesto e direto assim mesmo...

O que você levou anos para construir, alguém poderia destruí-lo da noite para o dia,

construa assim mesmo...

Se você encontrar serenidade e alegria, eles podem ter ciúmes, seja feliz assim mesmo...

O bem que se faz hoje, as pessoas muitas vezes esquecerão amanhã,

Faça o bem assim mesmo...

Dê ao mundo o melhor que você tem, e pode nunca ser o suficiente, dê ao mundo o melhor que você tem assim mesmo...

Veja você que, no final das contas, é uma história entre você e Deus, nunca foi entre você e os outros.”

Referências:

1 Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, 1964, n. 34.

2 São João da Cruz, Escritos Espirituais, n. 113.

3 Santa Teresinha do Menino Jesus, Manuscrito B, 3v e 4 r.

4 Santa Teresinha do Menino Jesus, Manuscrito C, 21 v.

5 Santa Teresinha do Menino Jesus, Poesia 54 “Por que te amo, oh, Maria”,

estrofe 22.

6 No Brasil, é: “Ora! Vive a Eucaristia! Serve! Prega o Evangelho, com tua vida

e com tua palavra!”.

7 Carta a Diogneto, n. 5.

8 Tertuliano, Apologética. n. 39,7. Citado por Papa Francisco na viagem

apostolica ao Quênia, Uganda e República Centro Africana, Catedral de

Bangui, 29 de novembro de 2015.

9 Papa São João Paulo II, Carta Apostólica Salvifici Doloris (1984), n. 24.

10 Camilo Maccise e Joseph Charmers, Perder para ganhar. O itinerário da

beata Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein). Revista de Espiritualidade, Ano

VII, nº 26, Abril/Junho 1999.

11 Edith Stein, Finite and Eternal Being: an attempt at an ascent to the meaning

of being. In: The Collected Works of Edith Stein; transl. K. F. Reinhardt, ICS

Publications, Washington: ICS Publications, 2002. p. 113, vol. 9. .

12 Cf. Site do Vaticano sobre Santa Teresa Benedita da Cruz, Edith Stein em

francês.

13 São João Paulo II, discurso aos peregrinos vindos a Roma para a beatificação

de Madre Teresa de Calcutá, n. 2, dado aos 20 de outubro de 2003.

14 Cardeal Crescenzio Sepe, ex-prefeito da Congregação para a Evangelização

dos Povos. In: site do vaticano sobre Santa Teresa de Calcutá em francês.

15 Ibidem.

16 Citado por São João Paulo II, Discurso aos peregrinos vindos a Roma para

a Beatificação de Madre Teresa de Calcutá, n. 3, 20 de outubro de 2003.

17 Citado por São João Paulo II, Homilia durante Solene Rito de Beatificação

de Madre Teresa de Calcutá, n. 1, 19 de outubro de 2003.

18 La très belle méditation de Mère Teresa sur l’amour (A bela meditação de

Madre Teresa sobre o amor). Le Pèlerin, 03 de novembro de 2021.

19 Isabelle Marchand. Dans les pas de Mère Teresa (Nos passos de Madre Teresa).

Le Pèlerin, 06 de janeiro de 2014.

20 Ibidem, p. 20.

21 Ibidem, p. 121.

22 São João Paulo II, homilia durante Solene Rito de Beatificação de Madre

Teresa de Calcutá, n. 5, dada aos 19 de outubro de 2003.